Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

domingo, 29 de setembro de 2013

Sobre um livro do Espírito Emmanuel/Chico Xavier, o materialismo marxista e dois poemas supremos de François Villon

Por recomendação de pessoa querida, estou lendo o romance histórico "Paulo e Estevão" de Chico Xavier, ou do Espírito Emmanuel. Os espíritas acreditam que é assim mesmo, que o espírito se expressa por intermédio do médium. Não sei, apenas posso afirmar que o romance é bom e não poderia ter sido escrito por pessoa que não tivesse largo conhecimento histórico. O livro é erudito. Aliás, sem um tanto de erudição, não pode haver romance histórico, mas apenas mirabolantes obras de época. Não quer dizer que os romances de época sejam ruins, apenas tratam os fatos históricos como meros pretextos, distorcendo-os desabridamente, ao sabor da imaginação. Assim são, por exemplo, os chamados "romances de capa e espada", cujos melhores exemplos são os estupendos, magníficos e tão universalmente apreciados livros de Alexandre Dumas.

Eu tenho paixão pelos romances históricos; quer os eruditos, quer os de pura aventura. Dentre os eruditos, cito os seguintes: "Eu, Claudius, Imperador" (continuação: "Claudius, o deus, e sua esposa Messalina"), do britânico Robert Ranke Graves; "Juliano, o Apóstata - a morte dos deuses", do russo Dimitri Merejkovsky; e a série "Os Reis Malditos", do francês Maurice Druon. "Paulo e Estevão" iguala-se a estes? Entendo que não, porém, mesmo por conhecer os melhores romances históricos eruditos da história, posso afirmar que é um bom romance. E não se trata de fazer aqui critica literária (Hildeberto Barbosa ou Chico Viana poderiam fazer), mas tão somente considerar a hipótese mediúnica, a partir da constatação da impossibilidade de tal livro ter sido escrito por pessoa de pouca cultura. Acresce que, além deste, Chico Xavier tem catalogados outros 400 títulos, todos atribuídos a espíritos desencarnados. Que outra explicação pode haver para tal fenômeno? Ora, a explicação científica, de cunho psicanalítico. Pois, eu lhes afirmo que a psicanálise é, fundamentalmente, matéria especulativa. Não que seja falsa, mas não é ciência. Com efeito a ciência trata apenas do que é empiricamente verificável, de tal modo que tal ou qual hipótese possa ser validada ou invalidada através de investigação/experimentação controlada.

Entendo, e já escrevi longamente sobre isso, que a ciência é um conhecimento secundário. Com efeito, trata apenas de coisas de menor importância. Não trata, por exemplo, de Deus; nem da Vida Eterna; nem da Alma Imortal; nem de aonde estão e como estão nossos entes queridos que morreram; nem onde estão e como estão todos os que já morreram. Os materialistas-científicos dizem que nada disso existe, que nada disso interessa. E eu também já escrevi que é por isso mesmo que o materialismo é a mais rasteira das doutrinas, a mais miserável de todas as filosofias.

Quem tem juízo e sentimento, sabe, no coração, que sem a promessa da Eternidade, que sem esse interesse, nada no mundo tem interesse, nada na vida importa. Pelo que, citarei mais uma vez o Paulo referido no romance do Espírito Emmanuel:

"Se foi por intenção humana que combati com as feras em Éfeso, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos que amanhã morreremos" (1 Coríntios 15:32)     

Nem que fosse verdadeira, eu haveria de querer para mim a doutrina do efêmero, da  morte, do nada. Mas por que tal hipótese sebosa e nojenta haveria de ser verdadeira?

Tratamos, em post anterior, a respeito da carta de Karl Marx a Pavel Annenkov, sobre a muito ruim metafísica da história, na qual, a meu entender, fundamenta-se o chamado materialismo-histórico, ou materialismo-cientifico. Espanta-me sobretudo que Marx e Engels tenham conseguido projetar um futuro feliz, prodigioso, luminoso, um paraíso de delícias que não poderá ser jamais usufruído por aqueles que por ele se sacrificam e morrem. Não há dúvida: os marxistas, além de equivocados, são uns tremendos otários. Se a morte é o fim de tudo, por que projetar futuros radiantes? Triste, triste: os marxistas trouxeram ao mundo desgraças sem conta a troco de nada.

Marx e Engels levantaram muitas e agudas questões históricas. A todas elas, contraponho a magna questão levantada pelo poeta François Villon: "où sont les neiges d'antan" (onde estão as neves de outrora?), que é o estribilho da célebre "Ballade des Dames du Temps Jadis" (Balada das Damas dos Tempos Idos). O turbulento Villon, mais de uma vez esteve em sérios apuros, chegando muito perto de ser enforcado. Na dita balada, indagava pelo paradeiro das famosas mulheres de antigamente. Na verdade, queria saber de todos os que já se foram. Roga uma resposta à Virgem e exige que o príncipe tome providências urgentes. Essa questão de Villon permanece como a mais fundamental da história. Villon, que, além de ser um gênio, era grande pecador, cuidou, precisamente, das coisas que mais importavam; também na "Ballade des Pendus" (Balada dos Enforcados), em que pede e exorta que se peça o perdão de Deus. Ofereço estas baladas memoráveis, tremendas, arrebatadoras, verdadeiras orações, à reflexão do leitor - no original e em traduções de Ivo Barroso e de Modesto de Abreu (www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet211.htm).


Número 211 - Ano 5
São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2007 
«Pois que é o Belo / senão o grau do Terrível que ainda suportamos (...)?» (Rainer Maria Rilke) *
 

François Villon

Caros,

Nesta edição o boletim traz à presença de vocês um poeta do fim da Idade Média — o francês François Villon. Misterioso, contraditório, Villon é sempre referido nas enciclopédias como poeta, ladrão e vagabundo. As incertezas em torno de sua biografia são imensas. Nasceu em 1431 e recebeu o nome de François de Montcorbier, nome que ele depois ao entrar para a Universidade de Paris — mudou para François Villon, em homenagem a seu protetor, Guillaume de Villon.

O poeta terminou os estudos em 1452. Três anos depois, envolveu-se numa briga de rua e matou um padre, Philippe Sermoise. Villon fugiu e foi condenado ao banimento sentença revista em 1456 por um perdão concedido pelo rei Charles VII. No final do mesmo ano, Villon já estava outra vez em apuros. Foi acusado de liderar um roubo e desapareceu por cerca de quatro anos.

Em 1461, aos 30 anos, ele escreveu o Grand Testament, obra que o imortalizou e que contém todos os seus poemas conhecidos. Os fatos da vida de Villon são desencontrados. Entre prisões e a proteção de nobres da época, ele foi levando. Em 1462, preso outra vez, foi condenado à forca. Mas a sentença foi comutada e convertida para banimento em 5 de janeiro de 1463. Essa é a última data de que se tem notícia dele. A partir daí, ele desaparece da História. Não se sabe como nem quando morreu.

François Villon é o poeta mais conhecido de sua época. Sua poesia, fiel ao estilo de então, é vazada em poemas de forma fixa, especialmente as baladas e os rondós. São famosos seus textos "Balada dos Enforcados" (escrito quando estava na prisão, condenado à forca) e a "Balada das Damas dos Tempos Idos", ambos reproduzidos aqui.

Na "Balada dos Enforcados", também conhecida como "Epitáfio de Villon", sentenciados já mortos se dirigem aos contemporâneos sobreviventes. Com um toque de crueza que antecipa certas ousadias modernas, eles descrevem a decomposição dos próprios corpos pendurados ("Eis que a chuva nos gasta e lava, e eis / Que o sol nos enegrece e tem secado") e suplicam que se peça a Deus pela sua absolvição.

A estrofe final de uma balada, chamada "oferta" ou "oferecimento", é sempre dedicada a alguém. Na "Balada dos Enforcados", os mortos rogam diretamente a Jesus Cristo pela sua absolvição. Aqui, a tradução desse poema é do sempre competente Ivo Barroso, já citado mais de uma vez neste boletim.

Menos trágica, a "Balada das Damas dos Tempos Idos" celebra com nostalgia uma lista de mulheres ao longo da História. Cada uma das estrofes dessa balada termina com a pergunta que se tornou um célebre refrão em francês e em outros idiomas: Mais où sont les neiges d'antan? ("Mas onde estão as neves de outrora?").

Entre as damas de antanho cantadas por Villon encontram-se figuras hoje pouco conhecidas como Flora, cortesã romana, e Taís que, segundo os estudiosos, poderia ser várias damas antigas com esse nome. A soberana não nomeada que mandou lançar Buridan ao Sena dentro de um saco teria sido Margarida de Borgonha, mulher de Luís, o Teimoso, condenada à morte por adultério em 1315. Conta-se que Margarida recebia os amantes numa torre e depois os mandava matar e atirar o corpo no Sena. Jean Buridan, reitor da Universidade de Paris e professor de Villon, teria estado com a rainha na juventude, mas encontrara um jeito de se safar da morte nas águas do Sena.

Mas na balada das senhoras antigas há também figuras conhecidas e citadas até hoje, a exemplo de Heloísa. Pedro Abelardo, filósofo, professor de Heloísa  ele, 37; ela, vinte anos menos  tornou-se amante da aluna. Após uma série de peripécias, o tio da moça termina por mandar castrar Abelardo. Final triste: ela ingressa num convento, e ele vai para um mosteiro ao lado. Não se encontram mais, porém trocam cartas apaixonadas.

Estranho é que o tradutor Modesto de Abreu não cita a castração de Abelardo. No original, Villon é explícito: "Où est la très sage Héloïs, / Pour qui fut châtré et puis moine / Pierre Esbaillart à Saint-Denis?" Tradução, ao pé da letra: "Onde está a mui sábia Heloísa /  Por quem foi castrado e depois se tornou monge / Pedro Abelardo em Saint-Denis?"

Outra dama dos tempos idos muito conhecida é Joana, a boa lorena,
que foi queimada em Ruão. Mais uma vez, o original diz mais que a tradução. Lá está escrito que Joana foi queimada por ingleses. Villon refere-se, obviamente, a Joana d'Arc, heroína da Guerra dos Cem Anos, morta na fogueira em 1431, ano do nascimento de Villon. Joana foi canonizada pela igreja católica em 1920 e é a padroeira da França.

Um abraço, e até a próxima.

Carlos Machado


 
                      •o•

LANÇAMENTOS

Para quem está na cidade de São Paulo esta semana.
• Lauro Machado Coelho

O jornalista e crítico musical Lauro Machado Coelho autografa Poesia Soviética, uma antologia com 24 autores russos do século XX com seleção, tradução e notas dele. Machado Coelho é autor de outro livro com versões de poemas russos: Anna Akhmátova – Poesia 1912-1964.
O volume Poesia Soviética é publicado pela Algol Editora.

Data: 1º de junho, sexta-feira
Hora: 18h30
Local: Livraria Cultura
Conjunto Nacional
Av. Paulista, 2073
Tel: (11) 3170-4033
• Donizete Galvão

O poeta Donizete Galvão lança neste sábado o livro infantil O Sapo Apaixonado – Uma História Inspirada em Uma Narrativa Indígena. O volume tem ilustrações de Mariana Massarani e prefácio de Betty Mindlin e sai pela Musa Editora.
Data: 2 de junho, sábado
Hora: 11h00 às 16h00
Local: Casa das Rosas
Av. Paulista, 37
Tels: (11) 3288-9447 e 3285-6986
Onde estão as neves de outrora?
François Villon



BALADA DOS ENFORCADOS
Homens irmãos que a nós sobreviveis,
Não nos tenhais o coração fechado;
A pena que por nós demonstrareis
Mais cedo Deus terá de vosso estado.
Aqui nos vedes juntos, cinco, seis;
Nossos corpos, demais alimentados,
Agora estão podridos, devorados,
E os nossos ossos vão ao pó volver.
Que não se ria alguém de nossos fados,
Mas peça a Deus que nos queira absolver!

Se de irmãos vos chamamos, não deveis
Mostrar desdém, embora condenados
Por justiça. Contudo, bem sabeis,
Nem todos são os homens assisados.
Junto ao Filho da Virgem bem podeis
Interceder de coração lavado:
Não haja a graça para nós secado
E do raio infernal nos possa haver.
Mortos, noss'alma já nos tem deixado;
Pedi a Deus que nos queira absolver!

Eis que a chuva nos gasta e lava, e eis
Que o sol nos enegrece e tem secado.
Pega ou corvo dos olhos nos desfez
E tem-nos barba e cílios arrancado.
Nossos corpos agitam-se, revéis,
Daqui, dali, ao vento balançados,
Sem cessa a seu prazer; de aves bicados,
Chegamos com dedais nos parecer.
Não queirais ser dos nossos congregados,
Mas pedi que Deus nos queira absolver!

Príncipe Jesus, mestre incontestado,
De nós não se haja o inferno apoderado,
Que ali não temos que pagar nem ver.
Homens, nada vai nisto de zombado:
Rogai a Deus que nos queira absolver!
                  Tradução de Ivo Barroso
Os enforcados: afresco na igreja de Santa Anastácia, em Verona.
Obra de Pisanello, 1436-1438.

L'ÉPITAPHE DE VILLON OU
BALLADE DES PENDUS

Frères humains, qui après nous vivez,
N'ayez les coeurs contre nous endurcis,
Car, si pitié de nous pauvres avez,
Dieu en aura plus tôt de vous mercis.
Vous nous voyez ci attachés, cinq, six :
Quant à la chair, que trop avons nourrie,
Elle est piéça dévorée et pourrie,
Et nous, les os, devenons cendre et poudre.
De notre mal personne ne s'en rie ;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre!

Se frères vous clamons, pas n'en devez
Avoir dédain, quoique fûmes occis
Par justice. Toutefois, vous savez
Que tous hommes n'ont pas bon sens rassis.
Excusez-nous, puisque sommes transis,
Envers le fils de la Vierge Marie,
Que sa grâce ne soit pour nous tarie,
Nous préservant de l'infernale foudre.
Nous sommes morts, âme ne nous harie,
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre!

La pluie nous a débués et lavés,
Et le soleil desséchés et noircis.
Pies, corbeaux nous ont les yeux cavés,
Et arraché la barbe et les sourcils.
Jamais nul temps nous ne sommes assis
Puis çà, puis là, comme le vent varie,
A son plaisir sans cesser nous charrie,
Plus becquetés d'oiseaux que dés à coudre.
Ne soyez donc de notre confrérie ;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre!

Prince Jésus, qui sur tous a maistrie,
Garde qu'Enfer n'ait de nous seigneurie :
A lui n'ayons que faire ne que soudre.
Hommes, ici n'a point de moquerie ;
Mais priez Dieu que tous nous veuille absoudre!

BALADA DAS DAMAS DOS TEMPOS IDOS
Dizei-me em que terra ou país
Está Flora, a bela romana;
Onde Arquipíada ou Taís,
que foi sua prima germana;
Eco, a imitar na água que mana
de rio ou lago, a voz que a aflora,
E de beleza sobre-humana?
Mas onde estais, neves de outrora?

E Heloísa, a mui sábia e infeliz
Pela qual foi enclausurado
Pedro Abelardo em São Denis,
por seu amor sacrificado?
Onde, igualmente, a soberana
Que a Buridan mandou pôr fora
Num saco ao Sena arremessado?
Mas onde estais, neves de outrora?

Branca, a rainha, mãe de Luís
Que com voz divina cantava;
Berta Pé-Grande, Alix, Beatriz
E a que no Maine dominava;
E a boa lorena Joana,
Queimada em Ruão? Nossa Senhora!
Onde estão, Virgem soberana?
Mas onde estais, neves de outrora?

Príncipe, vede, o caso é urgente:
Onde estão elas, vede-o agora;
Que este refrão guardeis em mente:
Onde estão as neves de outrora?
                  Tradução de Modesto de Abreu

Joana d'Arc: heroína francesa, depois santa católica.
Óleo de Jean Auguste Dominique Ingres, 1854

BALLADE DES DAMES DU TEMPS JADIS
Dites-moi où, n'en quel pays,
Est Flora la belle Romaine,
Archipiades, ne Thaïs,
Qui fut sa cousine germaine,
Echo, parlant quant bruit on mène
Dessus rivière ou sur étang,
Qui beauté eut trop plus qu'humaine?
Mais où sont les neiges d'antan?

Où est la très sage Héloïs,
Pour qui fut châtré et puis moine
Pierre Esbaillart à Saint-Denis?
Pour son amour eut cette essoine.
Semblablement, où est la roine
Qui commanda que Buridan
Fût jeté en un sac en Seine?
Mais où sont les neiges d'antan?

La roine Blanche comme un lis
Qui chantait à voix de sirène,
Berthe au grand pied, Bietrix, Aliz,
Haramburgis qui tint le Maine,
Et Jeanne, la bonne Lorraine
Qu'Anglais brûlèrent à Rouen ;
Où sont-ils, où, Vierge souvraine?
Mais où sont les neiges d'antan?

Prince, n'enquerrez de semaine
Où elles sont, ni de cet an,
Que ce refrain ne vous remaine :
Mais où sont les neiges d'antan?


 
poesia.netwww.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2007
François Villon
•  "Balada das Damas dos Tempos Idos"
   
 In R. Magalhães Junior 
    Antologia de Poetas Franceses (Do Século XV ao Século XX) 
    Tradução do poema: Modesto de Abreu
    Gráfica Tupy, Rio de Janeiro, 1950
 
•  "Balada dos Enforcados"
     In Ivo Barroso
     O Torso e o Gato
      
Record, Rio de Janeiro, 1991
_________________
* Rainer Maria Rilke, Elegias de Duíno (I),
  trad. de Dora Ferreira da Silva

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A Festa da 5ª edição da ROCHA 100 - Revista 100 Fronteiras. Polêmica reaberta: revisar Lei da Anistia é veneno contra a democracia

ROCHA 100 - Revista 100 Fronteiras chegou à sua 5ª edição com grande festa no Restaurante do Arruda, aprazível recanto da praia do Bessa, em João Pessoa-PB. Dentre outras, registramos as seguintes presenças: Leôncio Vilar, o Embaixador do Abacaxi; casal Manoel e Lourdes Von Sohsten; casal Romeu e Cláudia Carvalho; secretária de Finanças/PB Aracilba Rocha; deputado Genival Matias; assessor parlamentar Joca Holanda; médico José Ricardo de Holanda Cavalcanti; engenheiro José Alves da Rocha; Professor Fernando Alves da Rocha; Professora Nazaré; militante marxista e ex-preso político anistiado José Calistrato Cardoso;  militante marxista e ex-preso político anistiado Martinho Campos; jornalista Rafael Freire; geógrafa Janete Lins Rodriguez, diretora do Museu da FCJA; advogado e historiador Waldir Porfírio, membro da Comissão da Verdade/PB; Paulo Giovanni, presidente da Comissão da Verdade/PB... muita, muita gente. Todos muito bem recebidos pelos anfitriões Arruda, Arrudinha e Madame Arruda.

A revista, editada pela Sal da Terra, com tiragem de 5 mil  exemplares, está também disponível eletronicamente em www.portal100fronteiras.com.br

Esta 5ª edição traz um reportagem muito importante sobre a atuação da Comissão da Verdade da Paraíba, enviada pelo diligente advogado e historiador Waldir Porfírio. E dá continuidade à polêmica da revisão ou não da Lei da Anistia. Martinho Campos e José Calistrato tomam posição pela revisão da Lei, eu tomo posição contra a revisão da Lei. Na verdade, apenas reproduzi, com alguns acréscimos, um post que já havia publicado aqui, o qual, por sua vez, reproduz trechos do meu livro "A Comissão e a Verdade - Sobre Anos de chumbo e Anistia". Segue o post reformulado, ou seja, o artigo, tal e qual publicado na ROCHA 100 - Revista 100 Fronteiras. 


Anistia Ampla, Geral e Irrestrita foi conquista do povo brasileiro:
revisar a Lei da Anistia é veneno contra a democracia


Martinho Campos e eu fomos convidados pela Comissão da Verdade da Paraíba para prestar depoimento sobre as perseguições sofridas durante a ditadura militar, nos “anos de chumbo”. Prestamos tal depoimento no dia 19 de setembro, pela manhã, na Associação Paraibana de Imprensa, a velha API de tantos debates e embates, de tantos eventos históricos, que tanto tem servido à Democracia e à Liberdade. Martinho foi um destacado dirigente do PORT (Partido Operário Revolucionário Trotskista), tendo participado das lutas camponesas na Paraíba e outros estados do Nordeste ainda antes de 64. Foi preso em 1963, e várias outras vezes depois do golpe militar. Foi seguidamente torturado. Aos 71 anos, no que pese os cabelos brancos, Martinho demonstra vigor e ânimo juvenis. Seu depoimento, circunstanciado e minucioso, foi pungente. Na ocasião, aliás, recebi de Arthur Cantalice uma sugestão que repasso à Comissão da Verdade: depoimentos como esses deviam ser feitos, também, perante plateias maiores, em colégios e universidades, por exemplo.

Não irei refazer aqui o depoimento que fiz lá, vou apenas dar prosseguimento a uma polêmica antiga reaberta pelo meu depoimento: a revisão da Lei da Anistia. Eu sou contra e já escrevi um livro sobre o tema, que agora retomo. Do meu depoimento, farei apenas um pequeno registro, como forma de agradecimento.

Comecei por dizer que parte de  minha trajetória estava na plateia: minha irmã Lourdinha, na época universitária de Filosofia, minha confidente e que acompanhou as angústias da minha família em face das perseguições que rotineiramente eu sofria; Arthur Cantalice, meu professor no Liceu Paraibano, intelectual brilhante, destemidamente solidário com os estudantes; José Emilson Ribeiro, companheiro meu de lutas no movimento estudantil e no PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário); José Calistrato Cardoso, companheiro meu na luta pela Anistia, eu nas ruas de João Pessoa, ele na prisão de Itamaracá. Registro também a competência, desvelo e tenacidade do advogado Waldir Porfírio nos trabalhos da Comissão da Verdade da Paraíba. Feito o registro, vamos à polêmica.

Declarei minha posição contra a revisão da Lei da Anistia sabendo que, naquele ambiente, estaria amplamente minoritário. Com efeito, o sentimento pela revisão da Lei da Anistia é amplamente majoritário no âmbito das Comissões da Verdade, das inúmeras Comissões da Verdade criadas na esteira da Comissão Nacional da Verdade. É tão majoritário nesse âmbito quanto minoritário é no conjunto da sociedade. O povo brasileiro, que no distante ano de 1979 ocupou as ruas do Brasil clamando por Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, ficou bem feliz e comemorou a vitória quando da edição da bendita Lei. Comemoração que se estendeu por meses a fio, que se renovava a cada momento em que era libertado um prisioneiro político, a cada momento em que voltava um exilado. Enfim, todos os prisioneiros políticos foram libertados, todos os exilados voltaram. Essa Lei de Anistia abriu para nós o caminho da redemocratização. Essa Lei de Anistia foi das mais benéficas da história do Brasil e da história da democracia no mundo. Pretender sua revisão depois de mais de três décadas é um despropósito. Eu escrevi um livro sobre esse despropósito, portanto, limito-me agora a indicar o livro aos interessados. O título é "A Comissão e a Verdade - sobre 'anos de chumbo' e Anistia"; e está disponível em www.portal100fronteiras.com.br. Entendo que a revisão da Lei da Anistia possa se justificar à luz dos interesses do marxismo-revolucionário, que protagonizou a luta armada contra a ditadura militar. Todavia, à luz dos interesses da democracia, não se justifica; e no meu livro explico porque. Acho mesmo que a revisão da Lei da Anistia é veneno para a democracia, e espero que meu livro seja uma espécie de contraveneno. Para atiçar a curiosidade dos leitores, cito alguns trechos:

"No Brasil, em 1979, a exigência de punição dos agentes da ditadura colocaria em risco a transição pacífica e negociada. A prudência - que em grego se diz 'phrónesis', e foi elevada por Aristóteles à condição de máxima virtude política - prevaleceu; e o povo, ainda mais que os seus líderes, optou pela transição pacífica e negociada. Querer, mais de trinta anos depois, invalidar retroativamente uma negociação concluída e frutificada, é um despropósito". 

"A campanha pela revisão da Lei de Anistia tem dupla matriz: a) um sentimento de justiça; b) um oportunista projeto político-ideológico de retomar o confronto; ou seja, revanche: estando agora a esquerda em condições de vantagem".

"A esquerda revanchista, defensora da revisão da Anistia, não quer resgatar a verdade, quer recuperar os tempos e a guerra. Se conseguir, pode vencer a guerra, e implantará uma ditadura revolucionária. Mas pode também perder a guerra, com a possível sobrevinda de uma ditadura contrarrevolucionária. De uma ou de outra forma, a democracia perderá".

"As organizações marxistas revolucionárias (bolcheviques) que fizeram o enfrentamento armado com a ditadura militar não lutavam por democracia, mas pela implantação de uma ditadura revolucionária, dita "ditadura do proletariado".

"'XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu': Deverá o furor da justiça retroativa sobrepor-se à letra da Constituição Soberana? Deverá a Lei da Anistia ser revisada para punir exemplarmente agentes do Estado ditatorial que torturaram e assassinaram? Ou para punir exemplarmente militantes revolucionários cujo acendrado idealismo os levou a cometer crimes de terrorismo naqueles longínquos 'anos de chumbo'? Não será possível abominar a tortura e o terrorismo sem essas tardias punições exemplares? Não terá o amor à democracia nos ensinado a abominar todas as ditaduras - de direita e de esquerda -, e não apenas determinadas ditaduras?"

"Todavia, pensar que, uma vez revisada a Lei de Anistia, seja possível punir outros crimes mas não esses; tal pensamento seria um aviltamento dos juízos e uma afronta à memória dessas vítimas. Nem por serem poucas serão indignas. Que se chorem as vítimas da ditadura, que se as lembrem, que se as honrem, que em nome delas se peça reparações. Porém: Márcio, Carlos Alberto, Francisco Jacques, Salatiel; e ainda outras vítimas inocentes da esquerda revolucionária? Não se deverá chorar por elas? Não merecem ser lembradas? Não merecem honra? Não haverá quem, em nome delas, peça reparações?".

No meu livro, cito, dentre outras, esta lição de Norberto Bobbio: "Agora que a esquerda revolucionária reconheceu os direitos da liberdade, quer todos os direitos, e imediatamente. Inclusive o direito de impunidade que foi sempre a prerrogativa dos soberanos e dos déspotas"

Não é digno, não é decente o clamor por justiça seletiva. Se querem a verdade, as Comissões da Verdade não podem investigar os crimes da ditadura com uma mão e esconder os crimes da esquerda revolucionária com a outra. Da parte da democracia, interessa que o relatório da Comissão Nacional da Verdade seja inteiramente verdadeiro. Assim sendo, servirá para afastar do horizonte da Pátria a sombra das práticas de crimes de terrorismo de Estado e a sombra das práticas de crimes de terrorismo revolucionário. E afastar a sombra de todas as ditaduras: de direita ou de esquerda, nazi-fascista ou bolchevista, dos militares ou do proletariado.


















quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A verdadeira história da vida aventurosa do EMBARGO INFRINGENTE - contada por Rochinha das Queimadas, o Gavião Cantador

Meu primo poeta Rochinha das Queimadas, não sei o porquê, depois que lhe mostrei as glosas de Vitalzim de Taperoá e Miguezim de Princesa sobre o Embargo Infringente, encafifou com a coisa. Encafifou e não me dá sossego, querendo que eu publique uns versos dele sobre o assunto. O mais aborrecido é que meu primo não sabe mexer com computador e me diz os versos pelo celular. A vantagem é que, se as glosas de Vitalzim e Miguezim, muito boas e excelentes, fizeram subir a audiência do Portal 100 Fronteiras, as glosas do Gavião Cantador, ruins ou piores, fizeram subir a audiência deste Blog ROCHA 100. Então, vá lá.


A verdadeira história da vida aventurosa do EMBARGO INFRINGENTE

autor: Rochinha das Queimadas, o Gavião Cantador


O menino INFRINGENTINHO
era um menino indecente,
roubava prata de cego
e remédio de doente,
mentia com segurança
e ria trincando os dentes,
nunca sabia de nada,
se fazia de inocente.

Depois que ficou rapaz,
INFRINGENTE se perdeu,
tomava muita cachaça
e até adoeceu,
queria uma profissão
e ao Diabo se vendeu,
fez acordo com o Capeta,
deputado se elegeu.

Se deu muito bem na vida
e logo enriqueceu,
das aventuras passadas,
ele nunca se esqueceu,
mas roubava com cuidado,
nunca ninguém percebeu,
e o seu maior amigo 
se chamava Zé Bedeu.

Não era muito estudado,
mas era inteligente,
toda vez que apertado,
saía pela tangente,
por artimanhas ganhou
um nome proeminente,
um nome largo e pomposo:
é o EMBARGO INFRINGENTE.

Com EMBARGO ninguém pode,
de tudo ele é capaz,
tudo que o Diabo manda,
muito ligeiro ele faz,
nunca perde uma peleja
e não vai perder jamais,
ele é invencível mesmo
falando nos tribunais.

DOUTOR EMBARGO INFRINGENTE
É um pau pra toda obra,
Ele faz qualquer serviço,
mas por tudo ele cobra,
o cara fica com tanto,
ele fica com a sobra,
tudo vai acumulando,
sua fortuna redobra.

O Brasil tá dominado,
mas não tem tristeza, não;
a vida melhor do mundo
é a vida de ladrão,
pode roubar sossegado,
passear de avião,
pois o EMBARGO INFRINGENTE
lhe segura com a mão.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

EU SOU O EMBARGO INFRINGENTE / QUE AJUDOU ZÉ DIRCEU - Rochinha das Queimadas também glosa o mote de Vitalzim de Taperoá e Miguezim de Princesa

Vitalzim de Taperoá e Miguezim de Princesa bolaram e glosaram este muito oportuno mote aí do título. Foi tudo publicado no Recanto das Letras (www.recantodasletras.com.br) e republicado em vários Blogs e Portais, inclusive o Portal 100 Fronteiras (www.portal100fronteiras.com.br). Eu gostei demais. Aí liguei para o celular de Rochinha das Queimadas, um primo meu, poeta andarilho que canta "Repente", mais a mulher, a cabrocha Felismina, nas feiras de lá das bandas da região do Trairi no RN. Ele gostou do  mote e fez logo umas glosas, que anotei como pude (se houver algum pé quebrado não terá sido erro do meu primo poeta, mas falha na anotação).


Mote de Vitalzim de Taperoá e Miguezim de Princesa

EU SOU O EMBARGO INFRINGENTE
QUE AJUDOU ZÉ DIRCEU


Glosas de Rochinha das Queimadas, o Gavião Cantador



Sou veneno estricnina,
vidro moído com breu,
sou Zé Pilintra de fogo,
sou um sacerdote ateu,
sou catapora e sarampo,
sou o próprio Zebedeu:
EU SOU O EMBARGO INFRINGENTE
QUE AJUDOU ZÉ DIRCEU.

Sou o safado famoso
que no lodaçal cresceu,
o bandido façanhudo
que à Justiça venceu,
sou o pai dos salafrários,
coice que o jumento deu:
EU SOU O EMBARGO INFRINGENTE
QUE AJUDOU ZÉ DIRCEU.

Sou urso pé de veludo
que escondido comeu,
engabelando os otários,
a grande pança encheu,
e foi muito engraçado,
quase ninguém entendeu:
EU SOU O EMBARGO INFRINGENTE
QUE AJUDOU ZÉ DIRCEU.


Sou bicho de sete capas,
nunca ninguém me venceu,
quando atiro é morte certa,
quem duvidou se fodeu,
Eu dou as cartas de cima,
quem apostar já perdeu:
EU SOU O EMBARGO INFRINGENTE
QUE AJUDOU ZÉ DIRCEU.

Não tem Lero nem tem Melo,
quem manda lá só sou eu,
eu sou a Besta Fubana,
maldição de Asmodeu,
vou ser rei desse Brasil,
o Diabo já prometeu:
EU SOU O EMBARGO INFRINGENTE
QUE AJUDOU ZÉ DIRCEU.

sábado, 21 de setembro de 2013

Fala de Miquéias, nosso candidato a Presidente do Brasil: "As suas mãos fazem diligentemente o mal; assim demanda o príncipe, e o juiz julga pela recompensa, e o grande fala da corrupção da sua alma, e assim todos eles tecem o mal"

Se aceitar nosso convite e for mesmo candidato, Miquéias será, inapelavelmente, eleito Presidente da República. Ele não pode demorar a responder, por causa dos prazos eleitorais, sendo que Miquéias não se filiou ainda a nenhum partido. Dificilmente algum partido grande lhe cederá a legenda, mas sempre  se poderá contar com um desses partidos nanicos. Se Miquéias ficar com muito pouco tempo no horário eleitoral, bastará repetir Enéas e dizer: "Meu nome é Miquéias". Nas ruas, seu discurso incandescente, pleno da "ira divina", atrairá as multidões. Esse discurso, nosso candidato traz na ponta da língua, pois lhe saiu da boca, por inspiração de Deus, a cerca de 700 anos antes de Cristo; cuja vinda ao mundo, aliás, profetizou. Digo "nosso candidato" porque entendo que a Polícia Federal, ao batizar esta mais recente Operação contra a corrupção de "Operação Miqueias", estava conclamando os serviços deste profeta. Sei que não será fácil convencer Miquéias a abandonar seu milenar repouso junto ao Altíssimo, no Seio de Abraão. Porém, é preciso convencê-lo que, depois que a Justiça brasileira se dobrou ao poder dos corruptos mensaleiros, só ele, com a sua flama incomparável, poderá salvar o Brasil.

Miquéias é um dos chamados "profetas menores". Mas no Brasil ele será o maioral. Esse profeta tem uma fala bem famosa, justamente aquela em que é anunciada a vinda do Messias, que haveria de nascer em Belém de Judá. Vejam (conforme está em www.bibliaonline.com.br):

E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.
Miquéias 5:2



Anunciando um bem futuro, Miquéias deplorava a iniquidade da sua época da forma mais devastadora. Denunciava, como consta da "Wikipédia" (erudição Google), vejam só: "os governantes, os chefes, os ricos de Jerusalém e Samaria" (pobres cidades: não amarram as chuteiras de Brasília). E também atacava os que "estavam roubando o povo através da língua enganosa" (vocês aí lembram de algum político muito poderoso do Brasil que tem uma língua enganosa?). E combateu, ainda: "os ganhos imorais, a maldade planejada, a balança desonesta e o crime organizado" (lembrem os senhores que o esquema do mensalão foi descrito pelo Procurador Geral da República como uma "sofisticada organização criminosa").

Mas deixemos que fale o nosso candidato (vocês podem ir direto à Biblia Online, já por mim indicada, mas adianto uns trechos, aos quais acrescento, entre parênteses, algum comentário); e veremos que não existe nenhum brasileiro decente que possa deixar de votar neste magnífico Profeta:



Ai daqueles que nas suas camas intentam a iniqüidade, e maquinam o mal; à luz da alva o praticam, porque está no poder da sua mão!
E cobiçam campos, e roubam-nos, cobiçam casas, e arrebatam-nas; assim fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à sua herança.

Miquéias 2:1-2

(no Brasil, quem é que está com o poder na mão?)


Se houver alguém que, andando com espírito de falsidade, mentir, dizendo: Eu te profetizarei sobre o vinho e a bebida forte; será esse tal o profeta deste povo.
Miquéias 2:11

(o vinho é Romanée-Conti, a bebida forte é a caninha 51)


Ouvi agora isto, vós, chefes da casa de Jacó, e príncipes da casa de Israel, que abominais o juízo e perverteis tudo o que é direito,
Edificando a Sião com sangue, e a Jerusalém com iniqüidade.
Os seus chefes dão as sentenças por suborno, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá.

Miquéias 3:9-11

(quem será, no Brasil, o Senhor Protetor dos corruptos? E qual será o instituto de pesquisa que adivinha por dinheiro?)

As suas mãos fazem diligentemente o mal; assim demanda o príncipe, e o juiz julga pela recompensa, e o grande fala da corrupção da sua alma, e assim todos eles tecem o mal.
O melhor deles é como um espinho; o mais reto é pior do que a sebe de espinhos; veio o dia dos teus vigias, veio o dia da tua punição; agora será a sua confusão.

Miquéias 7:3-4

(no Brasil, é difícil saber quem é o melhor deles; e ainda mais difícil saber quem é o pior)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A Democracia é minha Escolha!

Nesta quinta-feira, 19/09, às 09h30, prestarei depoimento junto à Comissão Estadual da Verdade/PB. A sessão será aberta ao público. Conto com a presença de todos os amigos e peço que divulguem amplamente. Segue o Convite que me foi enviado pela Comissão. Vejam. Voltarei com uma breve palavra.


Ilmo. Sr.
WASHINGTON ROCHA
Vítima do Regime Militar
João Pessoa – Paraíba.


Prezado Senhor,
Cumprimentando-o, cordialmente, convido Vossa Senhoria para prestar depoimento na Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória do Estado da Paraíba, sobre as perseguições e outras violações aos direitos humanos que o senhor sofreu durante o regime militar.

Informo, ainda, que a Audiência Pública desta Comissão ocorrerá na sede da Associação Paraibana de Imprensa (API), às 09h30 horas, do dia 19 de setembro do corrente ano.
Certo de poder contar com a colaboração e apoio de V. S.ª, coloco-me aqui ao seu inteiro dispor, para quaisquer informações que se fizerem necessárias.
Atenciosamente,



                                                                        Paulo Giovani Antonino Nunes
             Presidente




Ainda adolescente participei, como líder estudantil secundarista e membro do PCBR, das lutas dos "anos de chumbo". Fui perseguido pela ditadura militar, detido várias vezes, expulso dos colégios, proibido de entrar na UFPB depois de ser aprovado no vestibular para o Curso de Direito. Fui sequestrado, mantido em cárcere privado e torturado nas dependências do IV Exército, em Recife-PE. Na sequência dessas perseguições, comandei em minha cidade, na condição de Presidente do Comitê Brasileiro pela Anistia/secção João Pessoa, a luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. Luta que foi vitoriosa. Com a edição da Lei de Anistia de 1979, os presos políticos foram libertados, os exilados retornaram e foi aberto o caminho para a redemocratização.

Com todas essas lutas, fui aprendendo por experiência o que Aristóteles já ensinara: "A coragem é a maior das qualidades humanas porque garante todas as outras".

Porém, aprendi mais: sem o amor, a coragem é inútil.

Aquele muito corajoso Imperador Juliano Apóstata, que cultuava os deuses olímpicos, proclamava intrepidamente: "Somente o Sol é minha Coroa!".

Eu proclamo:

Somente Deus é o meu Deus! Minha Fé é Cristo Jesus! 

A Liberdade é meu Princípio! A Democracia é minha Escolha!














segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Sobre a carta de Karl Marx a Pavel Annenkov: a metafísica da história, a mitologia do paraíso terrestre e a práxis da escravidão

Como prometi, vou opinar sobre a carta de Karl Marx a Pavel Annenkov, onde o pai do comunismo moderno defende e enaltece a escravidão. De início, chamo atenção para este judicioso comentário de Rafael Freire ao post em que publiquei o polêmico trecho:

Caro Rocha, não há na fala de Marx qualquer enaltecimento à escravidão negra. O que ele faz é se colocar desde um ponto de vista capitalista (particularmente dos interesses dos EUA), daí porque afirma que a escravidão não só é boa como indispensável. É importante lembrar que Marx analisou criticamente a sociedade capitalista como nenhuma outra pessoa, e jamais defenderia a escravidão indireta (mecanismo salarial) ou a escravidão direta (aprisionamento de uma raça/povo sobre outra(o). No mais, ele só provou com esta pequena carta o quanto seu pensamento era profundamente dialético, pois, de fato, tudo tem seu lado bom e seu lado ruim, inclusive a escravidão (DESDE UM PONTO DE VISTA CAPITALISTA, COMO É O CASO NESTA CARTA).

RAFAEL FREIRE"

Com efeito, em princípio, Marx não foi  um apologista da escravidão, pelo contrário, pugnou pela emancipação completa da humanidade através da revolução proletária. Todavia, na carta referida, no trecho referido, Karl Marx defende e enaltece a escravidão negra: o "lado bom" desta escravidão. Que seja de um ponto de vista capitalista, é certo, sendo este, precisamente, o ponto de vista de Marx: que o capitalismo deveria desenvolver ao máximo suas forças produtivas até um ponto de maturação que levasse essas mesmas forças à necessidade de destruir as relações de produção capitalistas para poder continuar a crescer. No ensaio "Contra a Teoria do Capitalismo de Estado - Resposta ao Camarada Cliff" (www.tedgrant.org), o marxista/trotskista sul-africano Ted Grant, tal como Rafael Freire, justifica a carta de Marx por esse ponto de vista. Vejamos:


"Marx explicou que a justificação histórica do capitalismo – apesar dos horrores da revolução industrial, da escravidão dos negros africanos, do trabalho infantil nas fábricas, das guerras de conquista através do planeta – se baseava no fato de que era uma etapa necessária ao desenvolvimento das forças produtivas. Marx demonstrou que, sem a escravidão – não apenas a antiga escravidão, mas também a escravidão na primeira época de desenvolvimento do capitalismo –, o desenvolvimento moderno da produção teria sido impossível. Sem estas condições nunca poderiam ter sido preparadas as bases materiais para o comunismo". 


No "Manifesto Comunista", Marx e Engels pintam com cores fortes a ferocidade do avanço capitalista pelo mundo, destruindo antigas relações de produção e, por consequência, antigas e caras relações sociais: "Tudo que era sólido se desmancha no ar, tudo que era sagrado é profanado". Mas justificam tal ferocidade pela imperiosa necessidade da evolução/revolução econômica. O que Marx diz na carta a Annenkov, sem rebuços, é que a escravidão negra era complemento da economia capitalista e, assim, necessária ao desenvolvimento que levaria à revolução proletária.
Para os marxistas, o caminhar inexorável da história, que traz em si um sentido (até então oculto, mas desvendado por Marx), movida necessariamente pelos fatores econômicos em uma direção previsível, é um bom e verdadeiro postulado científico. Na verdade, é apenas uma ruim metafísica. Dessa metafísica ruim derivou o mito do paraíso terrestre, que acalentou as esperanças de muitos milhões de sofredores.
Essa metafísica histórico-econômica e seu mito sedutor estão na raiz de desgraças incomensuráveis que o marxismo, através do bolchevismo (marxismo-leninismo), trouxe ao mundo. Pela crença na inevitabilidade histórica do comunismo, o paraíso na terra, justificaram-se todas as atrocidades. Sobre essa metafísica  e esse mito ergueu-se a repugnante "moral revolucionária" do bolchevismo, que pode ser assim resumida: tudo que favorece a revolução proletária se justifica pela grandiosidade da finalidade dessa revolução.

Deve-se dizer, de passagem, que a mitologia marxista do paraíso terrestre repete o percurso teleológico rumo ao paraíso celeste exposto por Santo Agostinho em "A Cidade de Deus".
Na via das necessidades históricas, seguiram-se as exigências políticas que haveriam de corresponder a essas necessidades: Marx e Engels postularam a "ditadura revolucionária do proletariado". Eram Marx e Engels apologistas de ditaduras? Em princípio, não. Entendiam que tal ditadura seria apenas uma etapa necessária no caminho da emancipação. Essa postulação da "ditadura do proletariado" não chega a ser propriamente uma metafísica, é mesmo uma tremenda estupidez. Desde a primeira revolução marxista, na Rússia, comandada pelos bolchevistas Lênin e Trotski, a "ditadura do proletariado" se exerceu como ditadura sobre o proletariado. Isso foi denunciado de pronto por dois eminentes marxistas: Rosa de Luxemburgo e Karl Kautsky.
Certamente, Rosa e Kautsky, marxistas fervorosos, consideravam que os bolchevistas praticavam aquelas violência e opressão estarrecedoras sobre o proletariado ao arrepio da doutrina do mestre. Porém, àquela revolução marxista vitoriosa seguiram-se várias outras sem que nenhuma deixasse de cometer violências estarrecedoras e de impor sobre o proletariado (e a população em geral) uma feroz e permanente ditadura, sem transição para nenhum paraíso, findas apenas através de insurreição popular.

É preciso que se aprenda com a história: a metafísica marxista da história, em todos os países em que os revolucionários marxistas empolgaram o poder, levou à práxis (prática) da escravidão ou da servidão.
Entendo que o marxismo, apesar das desgraças que trouxe ao mundo, é uma doutrina interessante, com alguma coisa aproveitável, desde que destituída das suas pretensões totalizantes. Como doutrina para construção de um novo mundo e de um "novo homem", o marxismo morreu, faz tempo. A autópsia foi feita pelo filósofo Iremar Bronzeado, em um livro que trarei à baila para continuar este debate. Além de Iremar, trarei à arena o próprio Marx, numa versão contrária ao Marx da carta a Annenkov. Vejam: em novembro de 1864, 18 anos depois da carta em que defende e enaltece a escravidão negra, Marx escreveu uma belíssima carta ao presidente Abraham Lincoln saudando a vitória da reeleição e a luta do presidente americano contra a escravidão negra. Transcrevo a vigorosa abertura da esplêndida carta (www.marxists.org):


"Senhor,
Felicitamos o povo Americano pela sua reeleição por uma larga maioria. Se a palavra de ordem reservada da sua primeira eleição foi resistência ao Poder dos Escravistas [Slave Power], o grito de guerra triunfante da sua reeleição é Morte à Escravatura.
Desde o começo da titânica contenda americana, os operários da Europa sentiram instintivamente que a bandeira das estrelas carregava o destino da sua classe. A luta por territórios que desencadeou a dura epopeia não foi para decidir se o solo virgem de regiões imensas seria desposado pelo trabalho do emigrante ou prostituído pelo passo do capataz de escravos?".


Continuarei em um próximo post. Espero comentários. Pretendo o debate. Sem debate, essa conversa não tem graça.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Lançamento da 4ª edição da ROCHA 100 - Revista 100 Fronteiras, com Homenagem ao historiador José Octávio de Arruda Mello: Karl Marx e a escravidão, Jesus Cristo e a Democracia

O lançamento da 4ª edição da ROCHA 100 - Revista 100 Fronteiras, com Homenagem ao historiador José Octávio de Arruda Mello, na noite da última sexta-feira (06/09), em O Sebo Cultural, transformou-se em um excelente debate. Na Mesa, para debater com o homenageado, estavam o também historiador e político Marcus Odilon, o filósofo Iremar Bronzeado, o escritor e intelectual comunista João Ribeiro, o médico e intelectual socialista católico Romeu de Carvalho, o artista e intelectual um tanto anarquista José Bezerra Filho, e este ROCHA 100 que vos fala (como mediador).

Pra começar, o debate foi bom porque houve debate. Vejam: a esquerda marxista por tal maneira monopolizou a agenda político-cultural de João Pessoa que os debates, de ordinário, transformaram-se em conversa de comadres entre comadres marxistas.

Pois vejam que assombro: o expositor, José Octávio, começou por  defender o liberalismo como condição da  democracia, citando o liberal-socialista Norberto Bobbio. Marcus Odilon fez referência a um post deste Blog (aquele que traz a carta em que Karl Marx defende a escravidão negra) e discorreu sobre os fundamentos econômicos das transformações sociais. Para Marcus, a superação da escravidão só foi possível com o advento das máquinas industriais. Romeu de Carvalho falou das relações entre socialismo e catolicismo. José Bezerra Filho meteu o pau no imperialismo norte-americano, que só não teria invadido Cuba porque lá não tem petróleo. Nisso foi contestado por Iremar Bronzeado, que realçou o papel dos EUA como defensores da liberdade. Também foi Iremar, conhecido como o "Filósofo da Liberdade", quem levantou a tese de que só aconteceram duas verdadeiras revoluções na história: a Revolução Cristã e a Revolução Francesa. E mais, que os fundamentos da democracia moderna foram estabelecidos pelo cristianismo. Essa tese foi refutada por alguém da platéia, mas também na platéia teve quem a defendesse. Enfim, houve debate, não conversa de comadre.

Houve também uma performance teatral esplêndida de Cláudia Carvalho. Romeu de Carvalho cantou ao violão. Zé Bezerra da Paraíba, o Pavarotti dos Trópicos, soltou sua poderosa voz tenor.

Foi uma festa: comandada com o vigor de sempre por Heriberto Coelho, o maior mobilizador cultural da Paraíba. Muitos alunos de José Octávio vieram prestigiar o mestre, com carinho. E o mestre não se acanhou de dizer que, para incentivar o carinho dos alunos, garantiu 2 pontos nas notas da próxima prova pela participação no evento. Eu reclamei, dizendo que eles mereciam mais.

Mas não marcaram presença apenas alunos, também outros mestres: a professora Linalda, a professora Nadilza, o professor Piva, o professor Caboré, o psiquiatra José Ricardo, o politicólogo Rui Galdino, o advogado Waldir Porfírio, o engenheiro José Rocha, o folclorista José Nilton... e muita, muita gente.

Enfim, quer fazer sucesso? FAÇA EM O SEBO CULTURAL.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A ética indecente, infame, repulsiva, asquerosa, nojenta e sebosa de Peter Singer

Faz mais de ano, tratei da ética de Peter Singer, um troço deveras asqueroso. Eis que o filósofo australiano volta à baila, com longa entrevista publicada no site da Veja e reproduzida em vários portais, inclusive este Portal 100 Fronteiras. Ele tem muitos simpatizantes no mundo e no Brasil, mesmo porque existe um aspecto simpático na sua doutrina: a defesa dos animais. Todavia, isso não será suficiente para justificar a sua defesa do extermínio de crianças. Nada no mundo, nem fora do mundo, o será. Na entrevista, o sacripanta carniceiro infanticida não diz nenhuma novidade. O mais curioso que notei foi que tanto o filósofo quanto o entrevistador fogem do ponto mais repulsivo, seboso e nojento da ética singeriana: precisamente a defesa do assassinato de crianças. Por isso voltei a tratar dessa nojenteza, para não deixá-la encoberta, com uns babacas aí chamando tal infame carniceiro de "novo Sócrates" e "humanista". Mas não precisei escrever um novo artigo; recuperei o antigo, de março de 2012.

domingo, 4 de março de 2012


O cristianismo e a ética asquerosa de Peter Singer

Uns tais Alberto Giublini e Francesca Minerva  publicaram no "Journal of Medical Ethics"um texto defendendo o infanticídio. Tanto os autores quanto o editor, Julian Suvalescu, foram duramente criticados. No Brasil, o crítico mais duro vem sendo o blogueiro Reinaldo Azevedo, que é o mais lido do Brasil. Não vou aqui tratar desse texto, pois acho que o Reinaldo está dizendo o suficiente (vejam lá, nos Blogs da Veja). Quero chegar a Peter Singer, que é um filósofo renomado.

Na justificativa que deu para a publicação do texto infanticida, o editor Suvalescu valeu-se da autoridade de Peter Singer. Este filósofo australiano radicado nos Estados Unidos é mesmo uma autoridade, adotado em algumas academias mundo afora, inclusive nas academias brasileiras, especialmente seu livro mais famoso, "Ética Prática" (editado no Brasil pela Martins Fontes - tradução de Jefferson Luiz Camargo). Não acho que o editor do "Journal of Medical Ethics" precise de justificativas, ele tem o direito de publicar o que quiser. Mas, com ou sem Peter Singer, o referido texto continua indecente.

A filosofia de Peter Singer é também indecente, embora tenha uma parte decente, simpática e generosa. Essa parte boa é a defesa dos animais. Porém, ai porém...; Singer equipara os animais aos humanos não apenas para a proteção daqueles, mas para  justificar o extermínio destes. Quer dizer, pelo menos enquanto forem criancinhas. Segundo o eminente filósofo, uma criancinha não é ainda uma pessoa, podendo ser assassinada sem que os assassinos precisem sequer sentir remorsos.

O infanticídio é por tal maneira infame, tão evidentemente infame, que não me ocuparei em refutá-lo, vou apenas expor algumas justificativas de Singer (todas do referido livro), com um ou outro comentário, que faço para desopilar o fígado. Desde que li o livro de Singer, faz algum tempo, meu fígado ficou intoxicado. Quem achar que as citações estão fora de contexto, que vá ao texto: a monumental canalhice tem 399 páginas. Os excertos expostos a seguir, dão uma ideia:

"Se o feto não tem o mesmo direito à vida que uma pessoa, resulta que o bebê recém nascido também não  o tem e que a vida de um bebê recém nascido tem menos valor para ele que a vida de um porco, de um cão ou de um chimpanzé para este animal".

"Em geral, como os bebês são indefesos e moralmente incapazes de cometer um crime, faltam aos que os matam as desculpas comumente oferecidas para o assassinato de adultos. Nada disso mostra, porém, que o assassinato de um bebê é uma coisa tão perversa quanto o de um adulto (inocente).

"Se conseguirmos por de lado esses aspectos comoventes (a aparência frágil e graciosa dos bebês), mas rigorosamente irrelevantes da morte de um bebê, seremos capazes de ver que os motivos para não matar pessoas não se aplicam aos bebês recém nascidos".

"Do mesmo modo, a razão utilitarista preferencial para se respeitar a vida de uma pessoa não pode aplicar-se a um recém-nascido. Os recém nascidos não podem ver-se como seres que podem ter, ou não, um futuro; portanto não podem ter o direito de continuar vivendo".

Este facínora filósofo não indica com exatidão uma idade limite para o abate de bebês; insinua, entretanto, que até mais ou menos os três anos o abate é livre. Vejam:

"É claro que seria difícil dizer em qual idade as crianças começam a ver-se como entidades distintas dotadas de existência no tempo. Mesmo quando conversamos com crianças de dois e três anos de idade, costuma ser difícil extrair delas alguma concepção coerente da morte, etc...".

A questão, como se vê, não é a idade, mas o tirocínio da criança: enquanto a pobrezinha não for capaz de travar um diálogo filosófico, pode-se matá-la sem mais aquela.

O Singer, por sobre facínora, é covarde. Depois de afirmar essas monstruosidades ele faz uma cautelosa ressalva:

"Deveríamos agir como se uma criança tivesse direito à vida desde o momento em que nasce". 

Presumo que este filósofo meliante esteja com medo de ser colhido nas malhas da lei por incitação ao crime.

Mas, que tem o cristianismo a ver com toda essa asquerosidade? Eis que o filósofo cretino indica o cristianismo como culpado pela proteção que se costuma dar aos bebês. Vejam que coisa formidável diz o sem-vergonha:

"Se essas conclusões parecem chocantes demais para serem levadas a sério, talvez valha a pena lembrar que a proteção absoluta que damos às vidas dos bebês é uma atitude especificamente cristã, e não um valor ético universal".

E mais adiante:

"Talvez hoje seja possível examinar essas questões sem adotar a estrutura moral cristã que, por tanto tempo, impediu toda e qualquer reavaliação essencial".

Pois então, quer dizer que é o cristianismo que tem nos defendido destas bestas genocidas?

VIVA JESUS CRISTO!