Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Reflexões sobre o maoísmo, a propósito do caso Chen Guangcheng

A luta do dissidente chinês Chen Guangcheng para se libertar da tirania comunista da China nos leva a algumas reflexões sobre o maoísmo, vertente chinesa da doutrina marxista que encantou o mundo ocidental nos idos dos anos 60 do século passado. Em 1968, sob o comando do "gande timoneiro" Mao-Tsé-Tung realizava-se na China a "Revolução Cultural", cujo objetivo declarado era corrigir os desvios da revolução proletária, extirpando os resquícios da nefasta ideologia burguesa. Usava-se como guia o "livro vermelho de Mao", como instrumento a "Guarda Vermelha" e como método a humilhação pública, a tortura e o assassinato em massa. Sabendo-se que, segundo a doutrina marxista-leninista, a violência é o único caminho para construção do paraíso na terra,  não será de estranhar que o horror que imperava na China maoísta fosse visto por grande parte da intelectualidade e juventude militante do Ocidente com êxtase de adoração: Mao fora, de fato, deificado pelo ateísmo militante; como antes já o fora Stalin. A violência revolucionária maoísta sacrificou, por aí, uns 70 milhões de pessoas (estimativa conservadora).
Vejamos: a violência revolucionária maoísta logrou conquistar o paraíso terrestre? Não. Mas é bem verdade que a China prospera. Depois do delírio maoísta, sobreveio a prudência de Chu En-Lai e Deng Xiaoping. O PCC (Partido Comunista Chinês) abrandou a tirania e reintroduziu o método de produção capitalista. Hoje, o capitalismo chinês alavanca o capitalismo mundial.
A tirania do PCC ainda persegue, oprime, tortura e mata; mas em escala bem inferior aos ensandecidos anos da "Revolução Cultural". Com efeito, fosse nos tempos da "Guarda Vermelha", Cheng Guancheng não teria saído do país; muito menos para ir para os Estados Unidos. Chegando na terra do Tio Sam, o dissidente cego disse ter escapado de um "sofrimento inimaginável". Enquanto isso, lá China, seu irmão mais velho, Chen Guangfu, e o filho deste, foram presos. Portanto, não foi sem motivo que Guangcheng pediu ajuda para a luta pela "promoção da justiça na China".
Guangcheng não é o único exemplo recente da tirania chinesa, pelo contrário, tais exemplos se sucedem e se atropelam. Há poucos dias, o que estava em manchete era o caso da perseguição ao artista Ai Weiwei, que, entre outras rebeldias, colocou na internet uma foto sua com quatro lindas chinesas: todo mundo nu, com a mão nas partes. Nos tempos de Mao, esse terrível vício burguês de exibicionismo teria sido castigado com o fuzilamento.
Se a tirania na China abrandou, o capitalismo lá implantado é dos mais selvagens: salários vis, jornadas longas e direitos trabalhistas escassos.
É muito ruim, mas já foi muito pior.
  

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