Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

domingo, 21 de agosto de 2016

"Amor Fati": primeira parte da réplica a José Octávio de Arruda Mello no debate da Liberdade

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Como vocês, caros leitores e caríssimas leitoras, puderam ver em post anterior, José Octávio de Arruda Mello, na conclusão da análise a meus ensaios contidos no livro "Natureza e Excelência da Liberdade e da Democracia", afirma: "...os estudos de Washington sobre as Revoluções e Norberto Bobbio são da melhor qualidade, impondo discussão crítica". Nenhum outro elogio poderia me deixar mais feliz. Como a discussão é crítica, o brilhante intelectual e eminente historiador faz também ressalvas; às quais começo a responder.

De início, José Octávio considera: "algo arrependido da antiga militância ultraesquerdista, o irmão de Gelza Rocha parece aproximar-se, por vezes, do anticomunismo". E cita a passagem do meu texto em que digo que  a "filosofia da práxis" já deveria estar "morta e enterrada".

Pois bem; anticomunismo no sentido de alguma perseguição a comunistas considero que seja algo detestável. Pelo contrário, entendo que seja salutar para a democracia o debate entre liberais e comunistas. Na Itália e no Brasil, por exemplo, esse diálogo resultou em os comunistas do PCI e PCB, respectivamente, abandonarem o comunismo para recair (aqui uso a elegante expressão de José Octávio) numa linha de esquerda democrática. Também o comunismo como ideal de emancipação definitiva de toda a humanidade, plena igualdade e perfeita fraternidade - o paraíso terrestre -, eu acho lindo e maravilhoso. Porém, o comunismo como política prática, aquela que foi implantada pelos revolucionários marxistas no século XX, aqueles regimes de servidão e morte, o comunismo real resultante da "filosofia da práxis"; esse comunismo eu abomino.

Quanto a arrepender-me da minha antiga militância ultraesquerdista, não me arrependo. Antes a resguardo no coração, por aquela fórmula de Nietzsche: "Amor Fati", que aqui transcrevo:

"Minha fórmula para a grandeza no homem é amor-fati: não querer nada de outro modo, nem para diante nem para trás, nem em toda eternidade. Não meramente suportar o necessário, e menos ainda dissimulá-lo – todo idealismo é mendacidade diante do necessário -, mas amá-lo” – Nietzsche, Ecce Homo.

Essa fórmula, célebre na grandiloquente expressão nietzschiana, já estava nos antigos, nos estoicos. E é possível entender que foi interiorizada e vivida por Jesus Cristo. É preciso amar o destino e amar o que passou, porque o que somos é a soma de tudo que já fomos e tudo que ainda seremos. Portanto: AMOR FATI.

Feita essa digressão, voltemos à "filosofia da práxis", que é o nome dado à doutrina política marxista pelo comunista italiano Antonio Gramsci. Tendo a "filosofia da práxis" se comprovado nefasta, resultando em servidão e genocídio, tendo caído de podre o império totalitário do comunismo soviético, estando os regimes comunistas restantes - com exceção da Coreia do Norte - recuando do receituário marxista; entendo que tal doutrina já deveria ter sido, metaforicamente, "morta e enterrada", assim como foi feito com a doutrina nazifascista, hoje cultivada apenas por grupos muito minoritários de fanáticos e mentecaptos. Que essas doutrinas vivam nas livrarias dos museus, expostas à curiosidade dos estudiosos de coisas velhas e acabadas. E daqui vou a outra digressão literária, uma passagem do estupendo poema de Edgar Allan Poe, "O Corvo", na esplêndida tradução de Machado de Assis:

"Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais.".


Em um futuro que espero não muito distante, quando o marxismo for uma velha doutrina morta, poderá, talvez, ser lida ou relida com carinho e nostalgia. Hoje, zumbis neomarxistas ficam o tempo todo batendo devagarinho em nossa porta, querendo espaço para aporrinhar, como o corvo chato do poema de Allan Poe. A diferença é que o corvo falava uma só frase, e os neomarxistas falam uma quantidade tão extensa de cretinices que nem Karl Marx e Friedrich Engels suportariam.

Continua no próximo post.

   



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