A última edição da revista "Veja" (17/08/2001) traz na capa denúncias contra o ministro Wagner Rossi, da Agricultura, e um editorial intitulado "Toda a força à presidente". A revista coloca-se ao lado de Dilma na luta contra a corrupção e a enche de elogios, como este: "Esses milhões de cidadãos têm na presidente uma referência de força e coragem". Todavia, Dilma, que talvez tenha gostado do editorial, não gostou da reportagem de capa. E já tinha avisado, em entrevista à revista "Carta Capital": " Não abraçarei a corrupção, mas não serei pautada pela imprensa". A situação é delicada. Dilma vem ganhando popularidade com o vigor da sua faxina, que varreu Palocci da Casa Civil e continuou a varrer nos ministérios dos Transportes e da Agricultura. Mas conflitou com a sua base parlamentar. Aí, sem a ciência da Presidente, a Polícia Federal detonou o Ministério do Turismo, pegando peemedebistas e petistas graúdos. Um "Deus nos acuda!". Na verdade, os correligionários dos acusados querem que Dilma os acuda. Não apenas querem, exigem e fazem ameaças de retaliação. Segundo o muito bem informado jornalista Cláudio Humberto, o ainda muito poderoso Zé Dirceu disse que se Dilma continuar enfrentando a base aliada "não concluirá o mandato". Sem citar o nome de Dirceu, o senador Pedro Simon repercutiu esta ameaça no Senado e pediu apoio à Presidente. Dilma precisa afirmar sua personalidade presidencial, precisa sair da tutela de Lula. É o que vem fazendo, com uma faxina que tem contrariado o ex-presidente que nunca "desencarnou" da presidência. Ou vinha. Dilma deu uma parada para reflexão e mandou sinais conciliadores a alguns denunciados. Ao ministro Wagner, segundo um interlocutor deste, telefonou para reafirmar a confiança, dizendo que a última reportagem da "Veja" "não se sustenta". Dilma tem mesmo muito o que refletir. O dilema é o seguinte: se avançar no seu enfrentamento, irá ganhando estatura de estadista, mas poderá ver levantar-se contra ela a mesma formidável máquina política que a elegeu. Se recuar, se aceitar ser pautada pelo PT-PMDB, poderá afundar na irrelevância. A presidente, no nosso entender, deve ser pautada apenas pelo interesse público; correndo todos os riscos. Não se consegue construir nada grande em política sem se correr grandes riscos.
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