Em 1846, de Paris, Karl Marx escreveu uma carta a Pavel Annenkov esculhambando com o livro
A Filosofia da Miséria (Systéme des contraditions économiques ou Philosophie de la misére), do anarquista Pierre Joseph Proudhon, e com o próprio Proudhon. Em um trecho dessa carta, Marx faz uma veemente defesa da escravidão negra, citando, inclusive, o caso da escravidão no Brasil. A longa carta está disponível no
Marxists Internet Archive e pode ser consultada por quem queira. Várias traduções estão disponíveis em muitos sites. Publico o trecho referido tal como está em
www.scientific-socialism.de/FundamentosCartasMarxEngels281246.htm
"
Gostaria, agora, de apresentar-lhe um exemplo da dialética do Sr. Proudhon.
A liberdade e a escravidão constituem um antagonismo.
Não preciso falar nem dos aspectos bons nem dos aspectos maus da liberdade.
No que respeita à escravidão, não é necessário falar de seus aspectos maus.
A única coisa que carece de elucidação é o aspecto bom da escravidão.
Não me refiro à escravidão indireta, i.e. a escravidão dos proletários.
Refiro-me à escravidão direta, à escravidão negra, existente no Suriname, no Brasil, nos Estados do sul dos EUA.
A escravidão direta é o ponto decisivo de nossa indústria contemporânea, tal quais o são as máquinas, o crédito etc.
Sem escravidão, não há algodão. Sem algodão, não há indústria moderna.
Só o advento da escravidão conferiu às colônias o seu valor, só as colônias criaram o mercado mundial.
O mercado mundial é a condição necessária da grande indústria de máquinas.
Assim, antes do tráfico negreiro, também as colônias do velho mundo forneciam, portanto, apenas muito poucos produtos e não modificavam, perceptivelmente, a face do mundo.
Consegüintemente, a escravidão é uma categoria econômica de suprema importância.
Sem a escravidão, os EUA, a nação mais avançada, transformar-se-iam em um país patriarcal.
Riscando-se os EUA do mapa mundi, teríamos a anarquia, a total decadência do comércio e da civilização moderna.
Porém, permitir que a escravidão desaparecesse, significaria riscar os EUA do mapa mundi.
Assim, como também a escravidão é uma categoria econômica, é ela, pois, encontrada desde o início do mundo, em todos os povos.
Os povos modernos apenas mascararam a escravidão em seus países e introduziram-na, conscientemente, no Novo Mundo.
Ora, depois dessas reflexões acerca da escravidão, o que é que fará o bom Sr. Proudhon ?
Procurará a síntese de liberdade e escravidão, o verdadeiro juste-milieu (EvM.: o justo-meio), em suma: o equilíbrio entre escravidão e liberdade.".
Em um próximo post, pretendo fazer considerações sobre este posicionamento um tanto desconcertante do pai do comunismo moderno. Antes, porém, gostaria que os leitores opinassem sem nenhuma mediação; sendo aconselhável, claro, que leiam a carta na íntegra.
Caro Rocha, não há na fala de Marx qualquer enaltecimento à escravidão negra. O que ele faz é se colocar desde um ponto de vista capitalista (particularmente dos interesses dos EUA), daí porque afirma que a escravidão não só é boa como indispensável. É importante lembrar que Marx analisou criticamente a sociedade capitalista como nenhuma outra pessoa, e jamais defenderia a escravidão indireta (mecanismo salarial) ou a escravidão direta (aprisionamento de uma raça/povo sobre outra(o). No mais, ele só provou com esta pequena carta o quanto seu pensamento era profundamente dialético, pois, de fato, tudo tem seu lado bom e seu lado ruim, inclusive a escravidão (DESDE UM PONTO DE VISTA CAPITALISTA, COMO É O CASO NESTA CARTA).
ResponderExcluirRAFAEL FREIRE
Tu ainda teve estomago pra "deixar claro"...parabéns, amigo!
ExcluirE aqui vemos mais um exemplo de como Marx não conseguiu fazer previsão nenhuma que se validou. Os EUA aboliram a escravidão e o que aconteceu? Foi varrido do mapa? Houve decadência do comércio? Grande analista!
ExcluirO autor do artigo pegou um trecho solto da carta e não entendeu nada da critica feita por Max ao modelo escravocrata americano. Os EUA não foram varridos do mapa porque encontraram novas formas de exploração, deixaram de explorar apenas pessoas e passaram a explorar países inteiros, isto nem Max poderia ter imaginado, basta ver seu poderoso exército invadindo países com as desculpas mais esfarrapadas ou os golpes via ditaduras feitos na américa latina e o aprisionamento econômico destes países via endividamento.
ExcluirPedro
Exato Rafael. Sou de direita, mas é isso mesmo!
ExcluirEsse blogueiro fez o que a imprensa comprada e golpista faz, distorce tudo que se pode distorcer.
ResponderExcluirSou totalmente anti-socialista; porém, o que se vê aí está bem longe de ser uma defesa da escravidão. O que ele fala é que a escravidão é necessária para que haja um sistema de exploração capitalista. E cita dois tipos: a direta e a indireta. O ponto em que ele erra é que a escravidão sempre foi um sistema economicamente caro e pouco produtivo, não por nada a liberal Inglaterra nada queria com ela. Erra, ainda, em julgar que ela é necessária para que o comércio de algodão seja viável; e piora a falha ao considerar que trabalho assalariado é "escravidão indireta". Bown Bawerk desconstruiu essa falácia já mais de 150 anos.
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