Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O Dia dos Pais e o Calendário Positivista de Auguste Comte

Para que serve o Dia dos Pais? Principalmente para aumentar o faturamento dos comerciantes. Não digo isso em tom de crítica. Pelo contrário, acho bom que os comerciantes faturem. Sou grande apreciador da sociedade de consumo. Eu mesmo, consumo o que posso; e não consumo mais porque não posso. Os críticos da sociedade de consumo, pelo menos os que conheço, consomem mais do que eu. Ocorre que consomem coisas esquisitas, especialmente feitas para serem consumidas pelos inimigos mortais da sociedade de consumo. Os comerciantes especializados em produtos para serem consumidos pelos anticonsumistas se dão bem, faturam uma barbaridade; e o negócio não para de crescer. Guido Mantega e Dilma Rousseff agradecem, pois precisam de muito consumo para fazer crescer o negócio lá deles, que está pequeno: o pibinho.

Mas meu assunto era outro. O Dia dos Pais, que se comemorou ontem - domingo/11 de agosto -, surgiu por influência do Calendário Positivista de Auguste Comte. A filosofia positivista será já um anacronismo, mas teve influência avassaladora de meados do século XIX até início do séc. XX, quando foi substituída pela filosofia marxista, também dita materialismo-dialético. Tenho em mãos os dois catecismos: o de Comte, propriamente intitulado Catecismo Positivista, e o de Marx e Engels, intitulado O Manifesto Comunista (no marxismo tem também uma Suma Teológica, intitulada O Capital, mas é um calhamaço muito chato que pouca gente leu). Não gostando nem de um nem de outro, posso garantir que o positivismo original é mais produtivo e menos mistificador.

O positivismo, todo mundo sabe, veio para acabar de vez com a metafísica, com todas as ilusões de transcendência, especialmente a crença em Deus e na Vida Eterna, e em outras superstições religiosas pregadas pela Igreja Católica e adotadas pelas mentes atrasadas e obtusas. Todavia, terminou, o positivismo, por criar sua própria religião, a Religião da Humanidade, e fundar sua própria Igreja Positivista, com rituais ainda mais complicados que os do catolicismo.

O marxismo, embora depois da morte do mestre Karl Marx, também criou sua própria religião e edificou sua própria Igreja. A Religião Marxista teve como Igreja o chamado Komintern, e o seu Santo Papa foi Stalin. Foi tão - ou mais - poderosa quanto a Igreja Católica na Idade Média. Porém, as muitas heresias e a rebelião do rebanho levou a um fim prematuro. Atualmente, a doutrina revive sob o curioso nome de "Politicamente Correto", e trabalha intensamente para edificar uma nova Igreja.

Voltando a Comte, veremos que a referida Religião da Humanidade e sua Igreja Positivista estabeleceram, inclusive, calendário próprio, tendo como referência não mais os santos católicos (alguns entram, por exceção), mas personagens do mundo secular e instituições sociais. Inspirado no abade Marco Mastrofini, Comte elaborou o Calendário Histórico, para acabar com o ultrapassado Calendário Gregoriano (na verdade, circularam outras versões de calendário positivista, sendo o Calendário Histórico o mais difundido):

Calendário Positivista/Histórico (364 dias, 13 meses de 28 dias, dois dias extras e ano bissexto - um dia extra para Festa dos Mortos e ou outro em Homenagem às Santas Mulheres; ou uma determinada Mulher)

Mês 1 - Moisés
Mês 2 - Homero
Mês 3 - Aristóteles
Mês 4 - Arquimedes
Mês 5 - César
Mês 6 - São Paulo
Mês 7 - Carlos Magno
Mês 8 - Dante
Mês 9 - Gutemberg
Mês 10 - Shakespeare
Mês 11 - Descartes
Mês 12 - Frederico II
Mês 13 - Bichat

Muito simpáticos os heróis de Comte. Num calendário meu, substituiria um ou outro, mas reconheço que todos têm grande merecimento. O menos famoso será esse Bichat. Não era bicha (se bem que, no seu tempo, se fosse, não sairia do armário). Trata-se do grande anatomista e fisiologista francês Marie François Xavier Bichat, pai da histologia moderna.

Tem ainda o complicadíssimo Calendário Sociolátrico, com as 81 Festas Anuais da Religião da Humanidade. Algo especialmente curioso nesse Calendário é o Mês de Festas dedicadas ao Casamento, diferenciado por Comte em 4 tipos:

Casamento Completo - Casamento Casto - Casamento Desigual - Casamento Subjetivo

O Casamento Completo deve ser muito bom. O Casamento Desigual deve ser o atribulado casamento que quase todo mundo vive, inclusive Comte, cuja esposa, Caroline, era, segundo o atormentado marido, "insubmissa e controladora" (no Brasil, costuma-se chamar esse tipo de esposa de "Dona Encrenca"). O grande amor de Auguste Comte foi Casto e Subjetivo. Platônica e perdidamente, apaixonou-se o filósofo por Clotilde de Vaux, em memória e sob inspiração de quem, justamente, elaborou a Religião da Humanidade e edificou sua Igreja Positivista.

Para o fim da vida, siderado pela imagem da sua inolvidável Clotilde, como Edgar Allan Poe, no sublime poema O Corvo, pela "inolvidável Lenora", dizem os desafetos, Auguste Comte já não batia bem da bola. Seus devotos negam tal alienação mental.

De qualquer modo, os principais líderes positivistas, que realizaram grandes feitos pelo mundo afora, foram, de modo geral, personagens responsáveis e sisudos. No Brasil, todo mundo sabe, foram decisivos na Proclamação da República, tanto que o lema sagrado da doutrina positivista está imortalizado na Bandeira Nacional Brasileira, embora em versão mutilada. A fórmula sagrada da Religião Positivista é: "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim ". O bravo senador Suplicy quer restaurar o "Amor" no "auriverde pendão" que, diz o poeta, "a brisa do Brasil beija e balança" (eis aí, vejam, um bom tema para plebiscito; melhor que financiamento público de campanhas para encher as burras dos partidos, forrar os bolsos dos políticos)

Não foi só a República e a Bandeira, o positivismo nos deixou toda uma graciosa herança, e graças a tão augusta doutrina, hoje em dia "todos e todas brasileiros e brasileiras" têm, como diria Erasmo Carlos, "Um Dia Pra Chamar de Seu":

Dia dos Pais, Dia das Mães, Dia do Trabalho, Dia do Professor, Dia da Criança, Dia do Pedicuro, Dia do Médico, Dia do Guarda Noturno, Dia do Numismata, Dia dos Supermercados (os supermercados roubam todos os dias, e ainda ganham um dia específico para roubarem mais), Dia do Índio (os índios, coitados, perderam suas terras, mas, em compensação, ganharam um dia só para eles), Dia do Pintor de Parede (na minha pesquisa-google não encontrei o Dia do Pintor de Rodapé de Parede, mas deve ter), Dia da Madrinha, Dia da Marinha, Dia do Funcionário Público Aposentado, Dia do Poeta, Dia do Agente Fiscal (nos tempos antigos, segundo os Evangelhos, eram hostilizados e chamados 'publicanos', hoje estão redimidos), Dia Nacional de Respeito ao Contribuinte (jamais foi levado a sério), Dia do Aperto de Mão, Dia do Orquidófilo, Dia do Revendedor Lotérico (foi instituído pelo deputado anão do orçamento por lembrança do amigo que lhe revendeu 221 bilhetes premiados), Dia do Caboclo, Dia do Palhaço, Dia da Pizza (especialmente cultuado pelos políticos corruptos), Dia da Baiana do Acarajé, Dia do Vendedor de Livros, Dia da Coragem (é o meu dia; precisa ter muita coragem pra escrever tanta besteira).  










Um comentário:

  1. Como positivista que sou,preciso dizer que mesmo com certa ironia em seu texto(artigo),mantivestes uma reserva em emitir uma opinião contraria a nossa doutrina,mas demonstrou realmente o carater doutrinário do nosso calendário,inclusive em relação aos feriados e dias citados. ( Érik Ultrecht, Poa/Rs. erikultrecht@yahoo.com.br )

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