Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

"Lixo da história": o ódio louco da filósofa petista marxista Marilena Chauí contra a classe média

O marxismo é uma doutrina ruim que foi melhorada pelos revisionistas - especialmente Eduard Berstein - e piorada por ortodoxos como Lênin, fundador do bolchevismo, o mais maligno de todos os regimes políticos que já infelicitaram a humanidade, podendo ser equiparado apenas ao nazi-fascismo. Dois condimentos comuns fazem do bolchevismo e do nazi-fascismo doutrinas/regimes especialmente malignos: o ódio e a violência. Constante da letra de tais doutrinas, quando o ódio e a violência assomam o espírito dos seus sectários é algo assustador. Porém, no Brasil, pensava-se que o ódio bolchevista fanático fosse coisa do passado, que os marxistas brasileiros hodiernos seriam todos 'light'. Vai deixar de pensar assim quem assistir ao tenebroso vídeo em que a filósofa marxista petista Marilena Chauí baba de ódio contra a classe  média. O discurso furibundo da filósofa, feito junto ao seu ídolo Lula e por ele aplaudido, já faz algum tempo que foi feito, mas agora um vídeo do evento tornou-se viral na internet. Está disponibilizado em inúmeros sites, inclusive no Portal 100 Fronteiras (www.portal100fronteiras.com.br). É uma coisa assustadora. Procurem e confiram; mas aviso que é só para quem tem nervos de aço e "estambo de geusso", como diz o deputado Mineral. Eu já tinha lido muito a respeito, mas só por esses dias foi que vi. Fiquei assustado.

Viram? Para quem não teve coragem de ver (é compreensível), nem adianta dizer que, após declarar seu ódio - "EU ODEIO A CLASSE MÉDIA!" - , a Chauí segue dizendo da pobre classe média o que, para usar uma expressão do mestre Machado de Assis, "Maomé não disse da carne de porco". Não adianta, porque o impacto não está apenas no conteúdo das palavras, mas na postura fanatizada/beligerante da filósofa. Ela grita que a classe média é "abominação", "fascista", "terrorista", "ignorante", "violenta", "petulante"... e quantos mais adjetivos virulentos escorreram da sua baba de ódio. Repito, ainda pior que as palavras, foi o furor expresso no rosto, na voz, na postura.

Falar besteiras depreciativas sobre a classe média é coisa corriqueira entre intelectuais imbecis da..., vejam só, classe média. Mas com o furor da marxista Marilena Chauí, que é da classe  média, eu ainda não tinha visto.

Considerar a classe média como "lixo da história" faz parte do acervo de cretinices do marxismo; todavia não é apenas uma cretinice, mas uma concepção política favorecedora de crimes de extermínio em massa, tais como os praticado na União soviética pelo regime marxista de Stálin ou no Cambdoja pelo regime marxista do Khmer Vermelho. Os agentes fanáticos de tais crimes de genocídio estavam movidos pelo ódio ideológico que quem tiver coragem de acessar o vídeo referido verá personificado na filósofa fanática marxista Marilena Chauí.

Vendo e revendo o vídeo, percebo algo de ridículo na Chauí, algo que me lembra o Tiririca: "Quando eu góstio, eu góstio, mas quando eu odio, eu odio". Porém, o ridículo não impede o horror, e por detrás do ridículo se pode ver o perigo que é uma declaração de ódio feita a milhões de  pessoas (a classe  média brasileira) por uma expoente (espécie de ideóloga) do partido que está no poder.

Por outro modo, pode-se enfrentar certos perigos expondo o ridículo dos seus agentes, que se pretendem graves e heroicos. Eis que, pesquisando no Google sobre o tema em tela, surpreendentemente, deparei-me comigo mesmo, um post deste Blog ROCHA 100, de maio de 2012, em que já ridicularizava essa conversa fiada de ser a classe média "lixo da história". Aproveito e ponho aqui como complemento. Acrescentando que, na verdade, o ódio de Marilena Chauí é que é o lixo dessa história.

 

quinta-feira, 31 de maio de 2012


O neo-marxismo e a miserável classe média brasileira

O marxismo ensinou ao mundo que "a classe média é o lixo da história". Como se sabe, os órgãos públicos brasileiros estão abarrotados de "companheiros" marxistas. Pois, coerentemente com a doutrina marxista revolucionária, a SAE ( Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República) baixou resolução estabelecendo as dimensões da lixeira na qual deve ser jogada a classe média brasileira. Vejam só:

Quem ganha de R$ 291,00 (duzentos e noventa e hum reais) a R$ 1.019, 00 (hum mil e dezenove reais) está sendo, pela implacável resolução da SAE, incluído na desprezível classe média.

Desde que abandonei o marxismo (que bobagem que fiz, logo agora que o marxismo está tomando conta do Brasil), tornei-me desinformado. Pensava eu que quem ganha o salário mínimo, por exemplo, ainda podia se orgulhar de pertencer à gloriosa classe proletária. Mas não, de jeito nenhum: por receber tão alta quantia, já foi jogado no "lixo da história".
Pensava também, que ignorância!, que quem tem de sobreviver durante um mês com 300 reais não é apenas pobre, mas miserável. Os marxistas de antigamente incluíam as pessoas que vivem de bico, de expedientes menores, de mendicância, na classe chamada lúmpem-proletariado. Os marxistas da SAE resolveram, por pura maldade, enfiá-las também na "lata de lixo da história".

Por outro lado, vejam: quem ganha 1.020 reais já se torna um opulento burguês. Não perdem por esperar: com o advento da revolução bolchevista no Brasil, serão expropriados da indecorosa fortuna que, até lá, terão acumulado através da usurpação mensal e continuada da mais valia dos que ganham abaixo de R$ 291,00.

O neo-marxismo brasileiro é um troço tão imbecil que, pensando bem, vou voltar a ser marxista ortodoxo.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

"Caminhemos, espíritos e vós, juntos em busca da tão especial melhoria dos corações": no dia da Paixão de Cristo, um presente de compaixão vindo de espíritos de luz

Eu, Washington Rocha, cristão fervoroso, ganhei nesta Sexta-feira da Paixão este presente vindo do alto, de espíritos de luz; este texto iluminado e magnífico, que elevou minha alma e alegrou meu coração. Não é, na verdade, um presente para mim, mas para todos: 

"Senhor!Tu que és a maior glória, o maior espetáculo e a maior premiação dos corações em busca de luz! Tu, Senhor, que és a nossa meta e o nosso chão, a nossa semente a plantar e o nosso grão a colher. Tu, Senhor, és a nossa meta atual e a agremiação dos nossos esforços. Somos os mesmos indivíduos que outrora se desgastavam em fúteis demandas, mas que agora soubemos alentar fervores nobres. Somos os mesmos indivíduos desterrados do caminho seguro e da reta senda que hoje trilhamos sedentos e famintos de amor e de luz. Como podem os corações desabrochar? Como podem as experiências proporcionarem uma transmutação tão real e efetiva no próprio caráter? É que o anelo celestial e a reta senda é a comum estrada, a estrada estreita e a estrada entrecortada de luz. Sedentos estávamos e, obrigados ao sofrimento extenuante e ao esforço incessante, fomos conduzidos lentamente para a prática da própria sustentação e do dever. Somente o medo do próprio coração retém o homem na sua mesquinha conduta, pois o coração, ele mesmo, é a sede, o fervor, a nervura, a brasa, o espetáculo eloquente e entusiástico do fim mesmo a que se propõe a caminhada humana. O coração, a tua sede de vida, a tua vontade de fé, o teu excelente pendor, a tua sublime virtude. O coração, teu amparo e tua lanterna, é o que te guia para a mágica transmutação energética na qual a menor fenda se abre e a maior reprovação se aniquila diante do estonteante brilho cósmico de Jesus. Chegados a ele somos transportados a um mundo todo de paz, todo de fé, todo de luz. Chegados a ele somos retemperados, absolvidos, reajustados e reconduzidos. Somos, enfim, renovados e prontamente aceitamos a tarefa de servi-lo, de servir, de amar e de estabelecer metas de concórdia e pacificação. Todos os que estamos acima de vós fomos outrora portadores de insuficientes méritos, de mesquinhas notas e necessitados de novas esperanças. Todos fomos portadores de deficit, de lutas, de labutas, de sofreguidões, de todos esses elementos corriqueiros que nos estimulam ao aprimoramento, ao contato consigo mesmo, ao sempre necessário auto-esclarecimento e à sempre necessária transição de um passado inglório para um futuro virtuoso, de um passado manchado para um futuro glorioso, de uma tez rasteira para um esplendor de luz. Somos, pois, irmãos; e os irmãos se acostumam ao trabalho comum. Caminhemos, espíritos e vós, juntos em busca da tão especial melhoria dos corações e da tão necessária volta ao distintivo inolvidável do Senhor".

sábado, 12 de abril de 2014

Post em homenagem a Ruy Barroso, com reflexão sobre uma velha anedota contada por Sérgio Botelho

Por ser meu amigo, Ruy Barroso já merece minha homenagem, ainda mais por ser  meu leitor, e mais ainda por ter em alta conta meus escritos, não me poupando elogios. Não bastasse, o muito inteligente e sempre bem humorado Ruy é um dos mais agradáveis proseadores da paróquia dos bares do Bessa, o mais encantador bairro desta linda Cidade das Acácias, onde temos a felicidade de habitar, viver e conviver.

Não obstante a homenagem, quero fazer uma reclamação: meu amigo Ruy tem enviado comentários sobre alguns posts deste Blog para meu e-mail, embora eu tenha pedido e até implorado para que os comentários sejam feitos no espaço próprio de comentários do Blog. Comentários são a alma dos blogs.

Conto agora uma anedota velha que me foi contada no tempo antigo pelo velho amigo Sérgio Botelho; depois direi com qual propósito.

Da tribuna da Assembleia da Paraíba, um deputado culto e refinado, advogado e escritor, chama um colega de "energúmeno". O colega, deputado do interior, bronco, semianalfabeto, porém brioso e despachado, responde: "Se essa palavra que Vossa Excelência disse comigo for 'agradativa', muito obrigado, Deus lhe acrescente; mas se for 'atacativa', é a PUTA QUE PARIU Vossa Excelência".

Usei essa anedota a propósito das respostas a meus posts que, como já disse, são endereçadas a meu e-mail pessoal. É que algumas, como as do amigo Ruy, são 'agradativas', e outras são 'atacativas'. Pois, gostaria de ter na área de  comentários tanto umas como outras. A última resposta 'atacativa' que recebi foi de um velho marxista, sindicalista e escritor paraibano. Ele ficou mordido porque eu esculhambei com a ditadura fascista do chavista podre Nicolás Maduro, que na vizinha Venezuela persegue, prende, tortura e assassina opositores, principalmente jovens estudantes. Eu não tenho muito que replicar, é um direito dele abraçar a bandeira bolivariana. Todavia, surpreende-me que um marxista reverencie um patife mistificador como o podre Maduro: o safado diz que o finado Hugo Chávez lhe aparece em forma de 'pajarito'; o sem-vergonha tirou a foto de Chávez milagrosamente brotada numa parede velha; o cretino afirma que - qual um servo de Drácula - dorme ao pé da tumba do seu ídolo defunto. Pois, é de espantar que um adepto da circunspecta doutrina do SOCIALISMO-CIENTÍFICO (também dita materialismo-dialético ou materialismo-histórico) aprove esse estrume supersticioso. Karl Marx e Friedrich Engels vomitariam.  

Seja como for, eu gostaria que o comentário 'atacativo' do velho marxista estivesse publicado na área de comentários deste Blog. Se ele fizer outros, peço que seja por esse meio, o que facilitará a ampliação do debate; sendo o debate 100 Fronteiras e 100 Censura o objetivo maior deste Blog ROCHA 100.

Voltando ao amigo Ruy e aos comentários 'agradativos', devo dizer que receber comentários inteligentes é bom; porém, melhor ainda é que sejam expostos ao público leitor.   

domingo, 6 de abril de 2014

A desmoralização do punho erguido: uma façanha do PT protagonizada pelos mensaleiros e pelo deputado André Vargas

Erguer o punho cerrado para a frente ou para o alto é um antigo sinal de rebeldia, altivez e coragem; um gesto carregado de poderoso simbolismo revolucionário. Quer dizer, era. O PT conseguiu a façanha de desmoralizar o punho erguido.

Embora seja eventualmente usado por ativistas de direita, por jogadores de futebol e até pelo Superman, o punho cerrado é bem mais identificado com os ativistas de esquerda. Em 1871, os revoltosos da Comuna de Paris já o usavam. Em eventos e celebrações da esquerda, o hino comunista "A Internacional" costuma ser entoado com os militantes de punhos cerrados ao ar. Nos anos 1960-1970 o gesto marcou fortemente a luta dos ativistas negros norte-americanos "Panteras Negras" (Black Panther Party). Aqui no Brasil, nos "anos de chumbo", lembro que a estudantada rebelde usava o gesto. Eu mesmo, ergui o punho cerrado em muitos dos discursos com que costumava esculhambar a ditadura militar.

E agora, que o punho erguido foi desmoralizado?

A desmoralização foi iniciada por aqueles petistas mensaleiros que, a caminho da Papuda, cerraram e ergueram o punho, confundindo corrupção com revolução. E seria continuada pelo papudo deputado petista André Vargas, que ergueu o punho em solidariedade aos companheiros corruptos e para debochar da Justiça e ofender o presidente do Supremo Tribunal Federal em uma sessão solene no Congresso Nacional.

Agora, que se flagrou o André Vargas do punho cerrado erguido voando nas asas do doleiro Alberto Youssef, erguer o punho cerrado se tornou, pelo menos no Brasil, um gesto de confissão de crime, um sinal de que faz parte da 'turma'. Youssef, aliás, foi preso pela Polícia Federal. A caminho da prisão, Youssef deve ter erguido o punho, pois um companheiro sempre aprende com o outro. Notem como a parceria se destaca neste diálogo entre Vargas e Youssef colhido pela PF:

VARGAS - "Estamos mais fortes agora. Vi documento com o Pedro. Ele estava no voo de volta a Brasília. Ele estava com o documento de parceria com a EMS".
YOUSSEF - "Cara, estou trabalhando. Fique tranquilo. Acredite em mim. Você vai ver como isso vai valer. Tua independência financeira e a nossa também, é claro!".

Outra conversa será ainda mais clara, uma comovente demonstração de que um companheiro não deixa outro na mão. Acossado por reclamações de Vargas, responde Youssef: "Calma, vai ser pago. Falei para você que iria cuidar disso".

O PT, como se sabe, moveu céus e terra para impedir a punição dos seus dirigentes corrupto-mensaleiros. Não conseguindo, encetou campanha para transformá-los em heróis, mártires e santos. Se não conseguiram evitar de todo as punições, conseguiram abrandá-las, inclusive com a ajuda pecuniária de milionárias vaquinhas. Quanto ao heroísmo, martírio e santidade dos dirigentes petistas corrupto-mensaleiros, isto é hoje dogma na Igreja Lulo-petista dos Santos de Todos os Dias. André Vargas será também canonizado, é claro.

Mas, e agora, com o punho erguido desmoralizado pelo PT, como os brasileiros haverão de protestar sem o precioso recurso de gesto tão emblemático? Que gesto usar, por exemplo, nos protestos que certamente eclodirão durante a "Copa das Copas" das bandalheiras, agora  em junho? Que gesto usar contra a ditadura da Fifa? Contra o desperdício em estádios bilionários onde o povo não pode entrar? Contra o escangalho na Saúde, Transporte e Educação? Contra a roubalheira na Petrobras? Contra a violência que se alastra?Contra o generalizado aparelhamento feito pelo PT em órgãos públicos e instituições? Contra a solerte campanha do PT pelo "controle social da  mídia" (eufemismo para censura)?

Talvez não seja necessário recorrer a nenhum gesto novo, mas sim recorrer a um gesto ainda mais antigo e universal do que o punho erguido. Fazer como a meninada rebelde sempre gostou de fazer: estirar o dedo.

terça-feira, 1 de abril de 2014

1º de Abril, 50 anos depois do golpe militar, um dia bom para dizer a Verdade - ou, a estupidez da campanha pela revisão da Lei da Anistia comprovada por Pesquisa Datafolha

Neste 1º de abril, em que escrevo, continuam a ocorrer pelo Brasil afora atos, falas e manifestações de diversos tipos contando a história e fazendo lembrar os crimes da ditadura militar implantada com o golpe de 1964: perseguições, prisões, torturas e assassinatos.

Eu, que, em João Pessoa-PB, estive na linha de frente das lutas estudantis em 1968, fui duramente perseguido, preso e torturado. Não fui morto, não sou Brás Cubas, não escrevo de Além-túmulo. Estou vivo, e vivo estando, pretendo usufruir por ainda longo tempo as benesses daquilo que ajudei a conquistar: a Liberdade e a Democracia. Pretendo que meus filhos e netos usufruam essas conquistas, que as aprofundem e elevem. Além de líder estudantil, fui membro de uma organização revolucionária armada, o PCBR. Não foi como tal que lutei por Democracia, foi depois, na luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, cuja vitória abriu o caminho da redemocratização.

Do ponto de vista democrático, a reconstituição histórica, a busca das mais escondidas verdades do passado, é necessária à construção do futuro, com a preservação das conquistas do longo percurso. O cultivo da verdade é uma das condições de fortalecimento da Democracia, que é um regime sedimentado sobre complexas pactuações; e os pactos feitos com o cimento da mentira não se sustentam.

Pois, é com espanto que percebo a insistência de uns quantos agrupamentos e setores de esquerda em procurar fazer a reconstituição do passado histórico através da mentira e da mistificação.

É necessário desnudar e execrar os crimes da ditadura, como vem sendo feito desde há bastante tempo, e ainda mais agora. Para isso sobram verdades, sendo as mentiras despiciendas. Quais são essas mentiras e por que as usam?

Por forma direta ou por omissão, pretende-se inculcar nas mentalidades que apenas a ditadura militar cometeu crimes, que os grupos armados que a enfrentaram não cometeram crimes. Isso é mentira: a esquerda armada cometeu crimes de terrorismo, inclusive aquele asqueroso crime de terrorismo contra os próprios companheiros, que foi o assassinato chamado de "justiçamento". Pretende-se ainda fazer valer a versão de que tais grupos armados lutavam por democracia. Isso é mentira: os grupos da esquerda armada proclamavam-se bolchevistas e, coerentemente, agiam de acordo com a doutrina marxista-leninista, que postula a "ditadura revolucionária do proletariado" como etapa imprescindível para emancipação definitiva dos oprimidos (essa postulação é uma cretinice teórica, mas é um dogma da igreja marxista-leninista). A única organização marxista relevante que, naquela época, objetivamente, lutou por democracia foi o Partido Comunista, o Partidão velho de guerra, que rejeitou o caminho da luta armada.

Tudo isso é tão certo e está tão solidamente registrado e estabelecido que estarrece a permanência na mentira. Então, por quê?

Um dos objetivos das referidas mentiras políticas é a consumação de uma estupidez política: a revisão da Lei da Anistia. E qual o objetivo da revisão da Lei da Anistia? a revanche, a recuperação da guerra revolucionária, estando agora a esquerda em condições de vantagem.

Vejam; do ponto de vista do marxismo-revolucionário, essa é uma boa estratégia. Do ponto de vista da Democracia, é um caminho desastroso.

Tratei disso extensamente no meu livro - Sobre "anos de chumbo" e Anistia - , publicado em 2012 e a cada dia mais atual. É preciso voltar sempre ao assunto porque a campanha estúpida pela revisão da Lei da Anistia prossegue; e, por estúpida que seja, poderá prosperar se os revanchistas ficarem sempre sem resposta.

Neste ponto, remeto os interessados ao meu livro (disponível em www.portal100fronteiras.com.br) e vou à análise da pesquisa citada no texto, para demonstrar como ela comprova a estupidez da referida campanha.

Trata-se da  Pesquisa Datafolha publicada ontem (31/03/2014) em reportagem na Folha de São Paulo. A pesquisa  foi bem formulada, mas a reportagem foi, a meu ver, desonesta e até escandalosamente desonesta, pois tentou desdizer por arenga política o que os números escancaradamente diziam. Vejamos:

Revisão da Leia da Anistia: 46% a favor; 37% contra.

Para a pergunta mais específica: você é a favor ou contra a punição de pessoas que torturaram presos políticos durante a ditadura? 46% a favor - 41% contra.

Até aí vai bem para os revanchistas. Porém vão aparecer números tão desagradáveis aos revanchistas que o jornalista se achou na obrigação de invalidá-los previamente, com um discurso engajado, falacioso e seboso.Vejam:

"O Datafolha também perguntou se é o caso de reexaminar atentados contra o governo cometidos por militantes opositores da ditadura.
A proposta não tem força política ou jurídica. Autores de atentados já foram julgados e penalizados com prisões, conforme legislação da época. E muitos sofreram punições não previstas na lei, como tortura e morte.
Apesar disso, a ideia costuma ser repetida por alguns defensores da ditadura em resposta aos que pedem punição aos torturadores.
Resultado: 54% responderam que sim, esses casos  merecem reexame. Quando o instituto perguntou se todos deveriam ser julgados hoje, torturadores e ex-militantes, 80% apoiaram".

Como se pode ver, o jornalista revanchista, fazendo campanha pró-revisão na sua reportagem, quer que a opinião de 54% dos brasileiros não tenha força política nem jurídica, enquanto a opinião de 46% sobre a mesma questão, mas do lado que lhe agrada, terá. Essa opinião do jornalista, flagrantemente tendenciosa e imbecil, tenta se sustentar no argumento falacioso de que "autores de atentados já foram julgados e penalizados com prisões". Alguns foram, nem todos foram. E a tortura e morte sofridas por uns, não absolve os crimes de outros. Eis as falácias. A seboseira está em insinuar que os que são contra a revisão da Lei da Anistia são "defensores da ditadura". Alguns serão, porém, a maioria dos que têm expressamente rejeitado a revisão da Lei da Anistia são inimigos viscerais da ditadura, muitos a enfrentaram, muitos foram perseguidos, presos e torturados por essa ditadura. Eu estou em todos esses casos. Aliás, passei a detestar todas as ditaduras. Quando líder estudantil, subia em qualquer pedaço de muro para bradar contra a ditadura militar: "DITADURA DE MERDA!". Hoje, para mim, não só a ditadura militar foi de merda; para mim, todas as ditaduras são ditaduras de merda, inclusive as ditaduras de merda bolchevistas com que sonham os marxistas-leninistas revanchistas.

Voltemos aos números da pesquisa. Por eles, mas não pela opinião militante do jornalista, a revisão da Lei da Anistia para efeito de punição seletiva não passará pelo crivo da opinião pública. E é muito difícil que essa despropositada revisão passe pelo Congresso Nacional e pelo Supremo Tribunal Federal sem passar pelo apoio popular.

Ademais, se esta Lei da Anistia, tão benéfica, que produziu os melhores frutos, inclusive a democracia em que vivemos, for revisada, pouco haverá de atingir os criminosos da ditadura, pois quase todos (ou todos) estarão mortos. Dado que a extrema juventude (alguns, como eu, adolescentes) foi característica dos militantes da esquerda revolucionária, seriam atingidos antes alguns dos jovens daqueles distantes "anos de chumbo". Calculem aí o tempo necessário para a revisão da Lei ser aprovada no Congresso, ser levada ao STF e aprovada (ao arrepio da letra da Constituição, que veda a retroatividade de leis gravosas), serem abertos os devidos processos legais, concluídos os julgamentos, feitas as dosimetrias, apreciados os embargos (inclusive os infringentes), para se chegar às sentenças definitivas.

Nós outros, libertários e democratas, defensores da Leia da Anistia, queremos a Verdade, a buscamos e a proclamamos; e queremos continuar a construção democrática pelo caminho da PAZ. Os revanchistas, postuladores da revisão da Lei da Anistia para efeito de punição unilateral retroativa, usam um pedaço da verdade para construir uma mentira capaz de enganar os ingênuos e arrastá-los para o caminho da guerra.

Não será fácil, não creio que consigam. Não, se não for permitido aos revanchistas ficarem falando sozinhos. Da minha parte, não permitirei.