Blog Rocha 100
“No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
A grandeza de Jacob Gorender: as exigências da Verdade
Por inteiro, o título do referido livro é "Combate nas Trevas: a esquerda brasileira - das ilusões perdidas à luta armada" (São Paulo: Editora Ática, 1987). É um livro denso e forte, que narra de forma dolorosa acontecimentos dolorosos, inclusive o episódio das torturas sofridas pelo próprio autor. Inclusive este breve e dilacerante relato do martírio de Aurora Maria Nascimento Furtado:
"Em sua graciosa juventude de mulher, Aurora Furtado foi a destemida guerrilheira da linha de frente da ALN. Abordada por uma patrulha no subúrbio carioca de Parada de Lucas, na manhã de 19 de novembro de 1972, matou um policial, tentou fugir e acabou aprisionada. Na Invernada da Olaria, após passar pelas atrocidades já rotineiras, circundaram sua cabeça com a 'Coroa de Cristo' - um torniquete que aumenta a pressão do crânio até afundá-lo".
Ou este apavorante relato da tortura e assassinato do ex-sargento João Lucas Alves, militante da organização revolucionária Colina:
"Sua altivez e bravura acirraram o ódio dos carrascos, que lhe quebraram os braços, vazaram os olhos, arrancaram as unhas e o esfolaram a fogo".
Estes e vários outros relatos das atrocidades dos agentes da ditadura: crimes que estarrecem, repugnam e provocam a mais viva indignação.
Porém, Gorender não se permitiu deixar nas trevas os crimes perpetrados pela esquerda revolucionária, como o "justiçamento" de Márcio Leite de Toledo, jovem dirigente da ALN, a mais intrépida organização revolucionária daquelas trevosas lutas:
"Márcio não havia cometido nenhum ato concreto de traição. Atribuíram-lhe a culpa de intenção e o fuzilaram pelo crime de intenção. Já à época, houve reprovação em vários setores da esquerda e o comunicado lançado pela direção nacional da ALN não convenceu. Já no período recente da minha pesquisa, quase todos os meus entrevistados, com os quais tratei do assunto, consideraram injustificável o justiçamento e apontaram sua causa em divergências políticas".
Este e uns poucos outros relatos de crimes de "justiçamento". Com efeito, os crimes da esquerda revolucionária foram em muito menor escala que os crimes da ditadura. Todavia, não podem - ou não devem - deixar de causar repulsa e indignação.
Mas por que Gorender relatou crimes perpetrados pelo seu próprio lado? Porque Gorender é um historiador, porque tem grandeza moral e intelectual, porque busca a Verdade e se submete às suas exigências. Já a Comissão Nacional da Verdade resolveu investigar apenas os crimes dos agentes da ditadura - e eu espero que vá fundo nesta investigação -, deixando esquecido e descurado o assassinato de Márcio Leite de Toledo, em clara afronta à sua memória e insulto a seus familiares. Márcio e uns tantos mais, alguns vítimas tanto da ditadura quanto dos companheiros de luta, como o caso de Francisco Jacques Moreira de Alvarenga, que, após sofrer torturas "sem limites", segundo relato de Gorender, ao ser solto, foi assassinado pelos próprios companheiros. Assim Gorender fecha o relato estarrecedor sobre Francisco Jacques:
"Libertado a 14 de junho, Francisco Jacques se dispôs a encontro com representantes da ALN, porém não mereceu dela o direito de defesa".
Se vocês, caros leitores e leitoras, querem a Verdade, não esperem pelo relatório da Comissão Nacional da Verdade; comecem pelo livro de Jacob Gorender e sigam investigando.
Alguns membros da Comissão Nacional da Verdade vieram a público clamar pela revisão da Lei da Anistia, fazer proselitismo. Não me parece que seja essa a missão da Comissão Nacional da Verdade. A missão de qualquer Comissão da Verdade de verdade é investigar e expor... a Verdade.
Eu defendo a Lei da Anistia, não me detenho aqui na sua defesa porque já fiz isso em livro - Sobre "anos de chumbo" e Anistia -, disponível eletronicamente no Portal 100 Fronteiras (www.portal.100fronteiras.com.br).
Nós vencemos a tenebrosa ditadura militar. É preciso agora vencer a tenebrosa mistificação. Este será, também, uma espécie de combate nas trevas. Vamos seguir o exemplo do grande Jacob Gorender, vamos combater.
Washington Alves da Rocha - João Pessoa, 14/06/2013
Esse Washington sempre fala certo. Gostei.Crime é crime seja de que lado for. Saudações. Américo
ResponderExcluirEu quando tenho tempo dou uma olhada nesse blog. Achei interessante. Esse artigo é bom. Passei hoje pensando encontrar alguma coisa escrita sobre as manifestações de rua.Oque os cronistad acham disso ou os responsáveis pelo Blog. Quanto a esta manchete da Secretária Aracilba, a fala é boa mas ela trabalha para o ditador Ricardo e então fica o dito pelo não dito. Maria Eunice Targino
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