Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

sábado, 8 de junho de 2013

A Comissão Devagar da Verdade da Paraíba: esperamos que ande, que diga a que veio, que seja autônoma, que não se guie pela agenda e conveniência do governador

Convidado, compareci, em 11/03/2013, no Palácio da Redenção para o ato de instalação da Comissão da Verdade e da Preservação da Memória do Estado da Paraíba. Tinha muita gente e muita gente tinha o que falar, mas ninguém falou. Quer dizer, o bravo militante comunista (PC do B) Simão Almeida fez um solene discurso de abertura e o governador Ricardo Coutinho fez um solene discurso de encerramento. Na Mesa estavam alguns importantes combatentes dos "anos de chumbo", que sofreram horrores nas mãos da repressão da ditadura militar, dentre os quais o bravíssimo José Emilson Ribeiro, ex-guerrilheiro, ex-preso político. Ninguém da Mesa falou: calados se sentaram e calados se levantaram ao fim do discurso de Sua Excelência o governador, após o qual o ato foi dado por encerrado. Eu protestei, de viva voz (discretamente, muitos outros também protestaram). Vieram a  mim explicar que se tratava apenas de uma solenidade, uma formalidade, que depois haveria muitas oportunidades para falas e depoimentos. Continuei achando que se perdera uma grande oportunidade, mas fiquei esperando pela novas oportunidades referidas. Esperei confiante, porquanto reconheci a excelência da composição da Comissão, onde destaco o advogado Waldir Porfírio (investigador competente e tenaz do período ditatorial) e o jornalista João Manoel de Carvalho (que é, pelas suas vivências e lutas, inclusive no enfrentamento com o golpe de 1964, um patrimônio da resistência democrática). Pois, passados três meses, continuo esperando. Eu sou um dos que teria o que falar.

Enquanto esperava, acompanhei pela imprensa as atividades da Comissão da Verdade da Paraíba. Nada ou quase nada: li que a Comissão fez uma visita ao Acervo Público de Pernambuco e que agendou viagens de trabalho. Também li uma reportagem em que a Comissão anunciava que o governo do estado mandara digitalizar fichas e processos do antigo DOPS, órgão auxiliar na repressão dos "anos de chumbo". Salutar medida, mas que não necessitaria de uma Comissão da Verdade para ser anunciada.

A Comissão da Verdade da Paraíba parece inoperante. Não afirmo que seja, apenas digo que não tenho conhecimento de quaisquer operações de investigação. Quem as tiver, por favor, divulgue: uma Comissão da Verdade deve atuar com a maior transparência possível. Tenho, todavia, um especial motivo para suspeitar da inapetência investigativa da Comissão da Verdade da Paraíba. Vejam:

Como líder secundarista, tive atuação de destaque nas lutas dos "anos de chumbo"; em consequência, sofri sérias perseguições, chegando a ser sequestrado pela repressão e levado para ser torturado nos porões do IV Exército, em Recife-PE. Isso  está relatado em livro, livro que entreguei a vários membros da Comissão da Verdade da Paraíba no referido ato de instalação. Isso foi, lembrem, no início de  março. Até o momento meu livro não logrou despertar a curiosidade dos investigadores comissionados. Mas vejam: na oportunidade entreguei o livro a alguns membros da Comissão de Memória e Verdade Dom Helder Câmara (que é como se  chama a Comissão da Verdade de Pernambuco), que tinham vindo prestigiar a instalação da  Comissão irmã. Pois, tenho recebido desta laboriosa Comissão da Verdade de Pernambuco seguidos convites para reuniões (o último convite para reunião em 04/06/2013), às quais, infelizmente, não pude comparecer.

A Comissão da Verdade da Paraíba deve aparecer e dizer a que veio. Esperamos que não tenha vindo apenas para dar um verniz esquerdista ao governador Ricardo Coutinho. Esperamos, aliás, que seja autônoma, que não se guie pela agenda e conveniência do governador. Esperamos que a comissão da Verdade da Paraíba não tenha vindo para enganar.

Atenciosamente,

Washington Alves da Rocha - em 08/06/2013.





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