Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Anistia Ampla, Geral e Irrestrita: a coragem de Dilma

A presidente Dilma tomou posição contra a revisão da Lei de Anistia. Fez a coisa certa, de forma corajosa. A Lei de Anistia - que libertou os presos políticos, trouxe de volta os exilados, pacificou a Nação e abriu o caminho da Redemocratização - deveria estar sendo enaltecida. Esta Lei foi consolidada por seus inúmeros benefícios, é patrimônio da Liberdade e da Democracia. Esta Lei, de 1979, faz aniversário em 28 de agosto: merecia uma celebração, uma grande festa cívica. Porém, ai porém..., o oportunismo esquerdo-populista-demagógico iniciou campanha para sua revisão: uma idéia de jerico. Conta com muitos defensores respeitáveis; nem por isso deixa de ser uma idéia de jerico. Esses defensores respeitáveis são, geralmente, patrulheiros muito desrespeitosos, que procuram desqualificar quem não concorda com a idéia deles. Vejam o que o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, disse sobre a decisão da presidente Dilma contrária à revisão da Lei de Anistia:

"Se esqueceu de seu passado de militância contra a ditadura militar ao jogar uma pá de cal sobre o pedido de revisão da Lei de Anistia, de modo a permitir a punição de torturadores".

Eu tenho como responder pela Presidente Dilma a esta provocação besta do Ophir; porque respondo por mim. Eu militei contra a ditadura, fui preso e torturado, nos porões do IV Exército, em Recife-PE. Sofri, antes e depois desse episódio, várias formas de perseguição do regime ditatorial. O processo político fez com que eu viesse a comandar, na minha cidade, a luta pela Anistia Ampla, Geral e Irrrestrita, na condição de presidente do Comitê Brasileiro pela Anistia-secção João Pessoa. Não esqueci nada. Exatamente por lembrar, é que sou contra esta idéia estúpida de revisar uma Lei que produziu as melhores consequências, e as produziu porque foi resultado de uma negociação realista e séria. De um lado uma ditadura enfraquecida, mas ainda com poder de fogo incalculável. Do outro lado, um movimento nas ruas, sem poder de fogo. Fomos nós outros, nas ruas, que levantamos a bandeira da Anistia AMPLA, GERAL e IRRESTRITA. Eles tinham armas, nós tínhamos pessoas presas; eles tinham o Governo, nós tínhamos pessoas exiladas. Nós, das ruas, sabíamos não ter forças para derrubar o regime militar; os militares sabiam não ter fôlego para muito tempo. Daí a negociação, o pacto e a Lei. E nós outros, das ruas, vencemos. Todos os presos foram libertados, todos os exilados retornaram. Entendam isso; imbecis: nós, das ruas, vencemos.Vocês querem revisar uma vitória popular; imbecis.
A tortura é o mais nojento dos crimes. Na época da negociação da Lei de Anistia, alguém poderia ter levantado esta exclusão: Anistia para todos, menos para os torturadores. Nós outros, das ruas, poderíamos ter levantado tal exclusão. Os que, respaldados pelas ruas, negociavam no Congresso e nos gabinetes em nome dos presos e dos exilados poderiam ter imposto tal cláusula de exclusão para efetivação do acordo. Por que não o fizeram? Porque teria sido uma estupidez. Porque teria melado a negociação. Porque teria prolongado o confronto por mais alguns anos. Porque os presos políticos permaneceriam presos e os exilados permaneceriam exilados. Porque os militares linha dura poderiam aproveitar para um recrudescimento da repressão, com o resultado de mais prisões, exílios, torturas e mortes. Numa guerra, quem ganha leva tudo. Numa negociação, nenhuma parte pode levar tudo. Entenda-se, enfim, o seguinte: o malefício de não se poder punir os torturadores daquela ocasião foi imensamente compensado pelos benefícios conquistados pela aprovação da Anistia sem restições: Vidas, Liberdade, Democracia e Paz.
Mais de 30 anos passados, tendo a Lei de Anistia produzido todos os seus frutos - abundantes e benéficos -, alguns desmiolados ou desmemoriados propõem sua revisão para efeitos de propaganda política. Juridicamente, a besteira não corre nenhum perigo de prosperar.
A proposta de revisão da Lei de Anistia é uma estupidez longa; assim, esse post poderia ser mais longo ainda. Fico por aqui, mas disposto a continuar se alguém quiser polemizar comigo. Pode ser por via de comentário, nas colunas ou em artigos (alguns colegas colunistas são defensores ardorosos da revisão da Lei de Anistia - comentários e artigos enviados, por quem quer que seja, por mais contrários que sejam à minha opinião, serão imediatamente publicados).
Tenho bastante criticado a presidente Dilma. Hoje é dia de elogio: alto, largo, claro e retumbante elogio. A mulher tem coragem de mamar em onça. Esta coragem de enfrentar a patrulha esquerdo-populista-demagógica é, podem acreditar, igual àquela com que enfrentou a prisão e a tortura.

6 comentários:

  1. Uma colocação muito feliz sobre a questão. Eu não fui torturado, mas abomino a tortura.Os torturadores, um dia pagarão pelo mal. Vocês "das ruas" conseguiram grande vitória com a Anistia para todos...O resto é falta do que fazer.Antônio Soares

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  2. Caro Antônio Soares. Teu comentário, simples e exato, diz tudo. Washington Rocha.

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  3. W.Rocha,

    Urge promovermos uma discussão mais aprofundada sobre o assunto. A priori, acho muito bom a revisão se pudermos punir e desmascarar públicamente os torturadores dos porões da didaduta.

    Heriberto Coelho de Almeida
    de O Sebo Cultural

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  4. Caro Heriberto,

    Vamos aprofundar a discussão. A priori, interessa-me a polêmica. A posteriori, veremos quem tem razão. Proponho um debate em mesa redonda - que pode ser quadrada -, aí no Sebo Cultural. Lembro alguns nomes para compor a Mesa: Helena Uema, Antonio Augusto Arroxelas, Isa Arroxelas, Alexandre Guedes, Elpídio Navarro, Ivaldo Gomes, Lourdes Meira, Emilson Ribeiro, Calistrato Cardoso, Derly Pereira, Iremar Bronzeado, Edmilson Alves de Azevedo, Potengi Lucena, Irlânio Ribeiro, Romeu de Carvalho, deputado Anísio Maia, secretário Casa Civil Walter Aguiar, ex-governador José Maranhão, Arcebispo Dom Aldo Paggoto... Enfim, um mundo de gente envolvido com a questão; tudo daqui da Paraíba. Podemos, ainda, convidar o senador Jarbas Vasconcelos (ele virá, pois, a meu convite, veio fazer discurso no Ponto de Cem Réis na Campanha da Anistia). E os senadores Lindemberg Farias, Álvaro Dias, Demóstenes Torres e Cristóvão Buarque. Também a deputada Luíza Erundina. E o Fernando Gabeira não pode faltar. Como vai ser no Sebo Cultural, você marca o dia. Tem aí uma mesa que caiba essa gente toda? Se não tiver, senta todo mundo no chão. Faremos um "chão redondo".

    Um abraço,

    W. Rocha

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  5. Vocês intelectuais gostam de uma polêmica! As coisas são ou não são, e fim. Preto é preto e branco é branco. Torturador é torturador com ou sem anistia. Torturado é torturado com ou sem anistia. Polemizar é conversa sem fim.

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  6. Eu gosto de polemizar, mas concordo que preto é preto e branco é branco, torturador é torturador e torturado é torturado. Então: Anistia Ampla, Geral e Irrestrita é Anistia Ampla, Geral e Irrestrtita; e fim.

    Washington Rocha.

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