Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sócrates, Jesus Cristo e WJ Solha: a questão da Fé

Na "Pequena arqueologia da minha vida pregressa - 7", publicada originalmente no "eltheatro.com" e agora no "portal100fronteiras.com.br", WJ Solha conta que, na juventude, leu, em um dos diálogos de Platão, uma prefiguração do sacrifício de Jesus Cristo, que culmina com a morte na cruz. E mais: neste diálogo, Sócrates ensina a Adimanto virtudes que, em substância, serão predicadas por Jesus. E estão lá também algumas considerações sobre a natureza do mundo e do homem, que Jesus compartilha com Sócrates. Entende Solha que tal diálogo, escrito cerca de 400 anos antes de Cristo, prova que Jesus não existiu, não passando de ficção. Solha diz que ficou profundamente abalado com a descoberta, donde presumo que, antes da descoberta, era cristão devoto. Abalado, Solha procurou dividir sua estupefação com outros crentes, escreveu ensaios e um romance, "A verdadeira história de Jesus", onde conta como, porque e por quem a ficção teria sido engendrada. Uma autoridade eclesiástica, o então Arcebispo Dom José Maria Pires, a quem Solha enviou os escritos, também ficou abalado e, aparentemente, foi convencido pelos argumentos de Solha, pois respondeu-lhe dizendo que "o que considerava até então um tesouro não passava de latão pintado de amarelo". Já eu, fico abalado ao descobrir que tais leituras possam abalar um cristão. Li o mesmo diálogo que Solha leu, "A República", e vários outros onde encontrei semelhanças entre Sócrates e Jesus Cristo; na vida e nos ensinamentos. Pois, sendo eu cristão fervoroso, tal leitura não me abalou nadica de nada. Pelo contrário, levei o tema para dentro de minhas aulas de filosofia, na UFPB e na UEPB. Ainda mais: em um livro, "Também eu sou da raça dos deuses", onde faço apaixonada defesa da Fé cristã, cito longamente Sócrates, como reforço. No caso, uma passagem do diálogo "Fédon", onde Sócrates usa a força da diáletica para provar, por a + b, que a alma é imortal. Concluindo desta forma sublime: "Mas, em realidade, uma vez evidenciado que a alma é imortal, não existirá para ela nenhuma fuga possível a seus males, nenhuma salvação, a não ser tornando-se melhor e mais sábia". Tal ensinamento, por outras palavras e a mesma substância, está em Jesus Cristo. Qual é o problema? O que os textos platônicos demonstram é que Jesus Cristo leu Platão. Seria de estranhar se não tivesse lido. Jesus era culto (aos doze anos ensinou aos doutores, pois não?) e a cultura helênica penetrara todas as províncias do Império Romano, inclusive a Judéia-Galiléia. O tetrarca Herodes, por exemplo, era um edomita completamente helenizado. É muito provável que Jesus tenha, igualmente, lido textos de sábios orientais, porquanto também a sabedoria oriental esplende na sua doutrina. Qual é o problema? Jesus Cristo, como se sabe, não veio ao mundo pronto e acabado: chegou desdentado e analfabeto, que nem a mãe do Lula. Os muitos anos não registrados da sua vida, certamente não os passou coçando o saco. Que o cristianismo é devedor da filosofia grega, isso é não só reconhecido como proclamado pelos Pais da Igreja. A principal inspiração da Patrística, primeira Filosofia Cristã, é precisamente Platão, através do neo-platônico Plotino. Que Solha não creia na divindade de Jesus Cristo e nem sequer na sua existência histórica, tudo bem. Mas seu abalo não se justifica; muito menos tal abalo ter repercutido em Dom José Maria Pires, levando um tão proeminente sacerdote de Cristo à descrença (se é que entendi bem, repito). Se eles descobriram a verdade verdadeira, que Jesus é uma ficção, deviam estar exultantes; porquanto a verdade é, pelo menos do ponto de vista da filosofia socrático-platônica, o bem em si. Em outro livro meu, "No coração de Antígona", já tinha me referido ao fato de o sábio Heinrich Von Kleist ter chegado ao desespero por causa de umas verdades metafísicas demonstradas por Kant. Ora bolas!, por que Kleist não mandou Kant e suas verdades desesperadoras à merda? Eu leio Kant, gosto muito. Mas se algumas verdades demonstradas por Kant viessem a me desesperar, mandaria ele e as suas verdades para a puta que as tivesse parido. Solha diz: "Sempre me impressionou o perigo que é a fé para o raciocínio". Pois eu, quanto mais raciocino, mais me convenço da Verdade Cristã. Tem coisas no cristianismo que a razão não explica? Todo mundo sabe que tem. Mas será que isso acontece apenas em relação à doutrina cristã? Justamente, aonde a razão não vai, vai o coração: com a Fé. Para mim, o núcleo da Fé Cristã está nesta passagem do Evangelho de João: "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morto viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?  - Sim, Senhor, respondeu ela, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo". Esta "ela" é Marta, irmã de Lázaro. Será possível explicar esta Verdade através do raciocínio, mesmo usando todos os artifícios da dialética e todos os silogismos aristotélicos? Não, não será. Mas também ninguém é obrigado a ser cristão. Quem, como Marta, acreditou e acredita, é cristão; quem não crê, não é. Está também no Evangelho: "Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará!". Uma verdade que não liberta, que amofina, que acabrunha, que traz desolação, que leva ao desepero, que mortifica; uma verdade destas não presta para nada. Um exemplo de "verdade" que não presta para nada é aquela que nega a Eternidade. Supor que o fim último do espírito  (inteligência, razão, alma) é a treva sem fim; tal suposição é uma cretinice, uma estupidez com que os filósofos materialistas insistem em infelicitar os crentes; não sei com que proveito. Platão/Sócrates provou a vida eterna através do raciocínio dialético. Não houve no mundo filósofo maior. Todavia, a razão não basta para tudo aquilo que o coração exige. Então, Deus mandou ao mundo uma nova luz, em forma de bebê, em uma manjedoura. Esta luz em botão, tornou-se a Luz do Mundo. Procurem-na. Não se deixem seduzir pela escuridão.      

10 comentários:

  1. Como pode um cristão ter sido convencido tão facilmente assim?Quais são os mistérios de Solha para conseguir tal feito? To começando a achar que Solha não só tem o poder da cura como também o de persuadir mentes alheias. Credo! Ou esse padre é um beato fajuto,ou Solha é a personificação do mau.

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  2. Lindo texto!! Este blog tá de parabéns.Washington é mesmo um grande cérebro. Se nos afastamos da fé, ficamos no abismo, na escuridão. Não importa em que religião vc está, o importante é você se conectar com o divino e viver uma vida d paz.

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  3. O conhecimento humano vem evoluindo dia a dia, a ciência vem sendo comprovada pelas invenções, boas e más: avião, luz elétrica, bomba atômica, internet... Mas o maior conhecimento é muito antigo: o conhecimento da Eternidade. Sem esse conhecimento, nada vale a pena. Fernando.

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  4. JESUS é o Messias cósmico: epítome de todas as religiões, filosofias, credos, seitas e sabedorias criadas pelo homem. Portanto, nada de estranho encontrarmos nele traços e semelhanças de todos os ontros pensadores e místicos, tanto os que o antecederam como os que, até hoje, continuam a busca sisifeana pela VERDADE que liberta. A VERDADE é a mesma sempre e eternamente. O que muda são as lentes com que os homens a vêem. Até Jesus, elas eram sujas, escuras, opacas e distorsivas. Jesus as corrigiu dando-nos as lentes do seu mútuo amor incondicional e absoluto. E a VERDADE nos libertou. Abraços e Bênçãos......Iremar

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  5. Catarina Rochamonte10 de maio de 2011 às 03:17

    Se Solha se espanta ao encontrar nas palavras de Jesus algo de Platão, deveria se espantar também em encontrar em Platão algo do pitagorismo, no pitagorismo algo do orfismo, no orfismo algo do hinduísmo e assim por diante, pois a crença na imortalidade da alma é a base dessas formas de espiritualidade.
    Sempre é belo sair em defesa de Jesus, mas nesse caso acho que Washington fez uma concessão desnecessária à Solha ao concordar que Jesus leu Platão. Segundo Ernest Renan, na clássica obra "vida de Jesus",não é provável que Jesus tenha aprendido o grego ou mesmo que algum elemento da doutrina helênica tenha chegado direta ou indiretamente até Jesus que, segundo Renan, nada conhecera fora do Judaísmo. Jesus não leu Platão, embora o cristianismo seja sim devedor da filosofia grega. Mas o cristianismo não é o Cristo, é apenas o esforço de sedimentação das palavras e das obras de um indivíduo que revolucionou a religião judaica a qual pertencia; revolução essa que foi a maior contribuição que já houve na história para o desenvolvimento moral e espiritual da humanidade. "Jesus, diz Renan, Não é um fundador de dogmas, um inventor de símbolos; é o iniciador do mundo para um espírito novo. Os menos cristãos dos homens foram, de um lado, os doutores da igreja grega que, a partir do século IV, colocaram o cristianismo num caminho de pueris discussões metafísicas,e, de outro lado, os escolásticos da Idade Média latina, que quiseram tirar do evangelho os milhares de artigos de uma 'suma' colossal".
    A essência do ensinamento de Jesus está no sermão da montanha, discurso simples e revolucionário capaz de enternecer qualquer alma que se compadeça daqueles que sofrem e na enunciação da boa nova, o reino de Deus, a vida eterna. Essas verdades, Jesus nos disse, Deus quis, através dele, dá-las a conhecer ao homem simples e ingênuo, não aos sábios. O cristianismo, com toda a sua escolástica, é uma religião extremamente intelectualizadas. A palavra do Cristo é simples como é simples o que vem de Deus. Postergo a discussão para um próximo texto na minha coluna neste site deixando apenas duas citações, especialmente para o filósofo ateu Solha, uma do filósofo não ateu Henri Bergson e outra do historiador não cristão Ernest Renan: "Do ponto de vista em que nos colocamos, e do qual a divindade aparece a todos os homens, pouco importa que o Cristo se chame ou não se chame homem. Não importa sequer que se chame Cristo. Os que chegaram ao ponto de negar a existência de Jesus não impedirão o Sermão da Montanha de figurar no evangelho, juntamente com outras palavras divinas.(Bergson)" "Quaisquer que possam ser os fenômenos inesperados do futuro, Jesus não será ultrapassado. Seu culto se rejuvenescerá constantemente; sua lenda provocará lágrimas sem fim; seus sofrimentos enternecerão corações; todos os séculos proclamarão que, entre os filhos do homem, não nasceu nenhum maior que Jesus."

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  6. Magnífico comentário da filósofa Catarina Rochamonte. Esperarei o artigo na sua coluna para, por minha vez comentar. Adianto apenas que Gelza Rocha já me havia dito que os argumentos de Solha autorizam apenas a suposição de que Jesus tenha lido Platão. Gelza também prometeu um artigo na sua coluna sobre o tema; igualmente, comentarei. O filósofo Iremar Bronzeado fez aqui outro esplêndido comentário e também prometeu abordar o tema na sua coluna; certamente comentarei. Solha, contestando Jesus, mobilizou os cristãos.

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  7. Depois de ler o profundo comentário de Catarina Rochamonte,no qual descubro pontos coincidentes com meu pensamento, considero desnecessária minha opinião.Fico aguardando ansiosa pelo texto que ela deverá escrever em sua coluna. Apenas para relexão:Supondo que Jesus tivesse lido Platão qual o mal em que aprimorasse os textos platônicos e os transformasse nas maravilhosas mensagens de esperança, perdão, justiça e ressurreição tão significativas à humanidade? As mensagens de Cristo,com ou sem influência do filósofo, fazem um bem enorme a todos. Já se tivesse lido um Solha, quanta descrença, escuridão,desespero,vazio... Gelza

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  8. Os comentaristas cristãos estão comentando sozinhos. Está havendo censura? Cadê os comentaristas ateus?

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  9. Jesus Cristo morreu. Mas tem gente se passando pelo Pai dele no Palácio da Redenção...

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