Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A César o que é de César, a Solha o que é de Solha e a Cristo o que é de Cristo - capítulo 1

"Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mateus 22: 21). O filósofo Iremar Bronzeado interpreta esse enunciado de Jesus Cristo como um dos fundamentos da democracia: a separação entre governo e religião, ou seja, o Estado laico. Já o teólogo Joseph Atwill entende que a única preocupação de Jesus era que os judeus pagassem direitinho os impostos a Roma. Eu concordo com o filósofo Iremar. Aliás, em artigo publicado aqui neste Blog, Iremar Bronzeado, o Filósofo da Liberdade, afirma e demonstra que estão nos Evangelhos os fundamentos da democracia moderna. Já Atwill, roubou de WJ Solha a teoria de que Jesus Cristo teria sido um instrumento do Império Romano, e com a teoria roubada em mãos, vem ganhando fama. Vejam, como dito no post anterior, a teoria da construção pelos romanos de um líder religioso pacifista para debelar a rebeldia dos judeus em relação ao domínio imperial, servindo à Pax Romana; essa teoria é de WJ Solha. Devemos, pois, dar a Solha o que é de Solha. A revista Veja, por exemplo, não fez isso: a sua última edição (23/10/2013) traz uma matéria boa e com título muito feliz - Dai a Jesus o que é de Jesus -, onde a excelente articulista Adriana Dias Lopes comete um único pecado: considerar a teoria como sendo de Atwill, sem dar a Solha o que é de Solha.

Parêntese: eu mesmo devo a Solha uma retificação, e já pago. No post anterior, eu disse que no "Relato de Prócula" o principal artífice do líder judeu pacifista Jesus é o historiador Flávio Josefo, tal como referido por Atwill. Não é; Solha apresenta como educador de Jesus o filósofo Fílon de Alexandria. Confundi Josefo e Fílon em minha mente talvez porque ambos sejam judeus helenizados. Feita a retificação, aproveito para dizer que para esse papel Fílon é cronologicamente mais coerente, pois floresceu (nasceu em + ou - 20 a. C e morreu + ou - no ano 50) na época em que podemos considerar que tenha sido a época da vida de Cristo, enquanto a atividade de Josefo é posterior (nasceu em + ou - 37 d.C e morreu + ou - no ano 100). E mais: na história engendrada por Solha, Jesus Cristo tem existência pessoal e pela sua ação direta é que teria servido aos interesses da Roma Imperial. Para Atwill, Jesus teria servido aos interesses romanos, como "instrumento contrário aos interesses do povo comum", mesmo sem ter existido. Essa é uma cretinice de que já falei, mas voltarei a falar, porque dá gosto contraditar uma bobagem dessas.

Retorno ao leito principal do texto com isto: Joseph Atwill e outros inimigos de Jesus não lhe querem conceder nada, nem o mínimo, que é a existência. É muita sacanagem. E muita obtusidade na investigação histórica.

Lanço mão agora de um superior especialista, o filósofo judeu-cristão Henri Bergson, com um tópico que foi enviado para a área de comentário deste Blog:

"[...]mas é preciso que, seja como for, tenha havido um começo. De facto, na origem do cristianismo há o Cristo.. Do ponto de vista em que nos colocamos, e do qual a divindade aparece a todos os homens, pouco importa que o Cristo se chame ou não se chame homem. Não importa sequer que se chame Cristo. Os que chegaram ao ponto de negar a existência de Jesus não impedirão o Sermão da Montanha de figurar no Evangelho, juntamente com outras palavras divinas. Ao autor dar-se-á o nome que se queira, o que não significará, porém, que não tenha havido autor" (Henri Bergson, As duas fontes da moral e da religião)"

Parece-me irretorquível essa consideração do grande filósofo. Todavia, reforço: que poucos anos após os eventos narrados nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João milhares de pessoas tenham aderindo ao cristianismo entre os judeus, e que logo mais sejam milhões pelo mundo; não será razoável pretender que tal tenha ocorrido sem um exemplo de carne e osso, uma pessoa viva que pudesse entusiasmar os primeiros adeptos, dando-lhes uma chama capaz de inflamar outras pessoas.  Os primeiros núcleos dos prosélitos cristãos, com registros históricos abundantes, contam com membros que conviveram com Jesus Cristo. As viagens e cartas do Apóstolo dos Gentios têm registro histórico por longa extensão do Império, e Paulo de Tarso, se não conviveu com Jesus Cristo, conviveu com quem conviveu. A morte de Jesus Cristo, durante Tibério César,  e a feroz perseguição de Nero aos cristãos separadas por apenas três décadas; ou seja, em 30 anos de existência o cristianismo tinha já ultrapassado os limites da distante província da Judéia e penetrado e estremecido o coração do Império. Tudo isso sem que nenhum Cristo tenha existido? Divino ou somente humano, sincero ou charlatão, sapiente ou doido de pedra, nunca existiu Jesus Cristo, pessoa nenhuma? Para Atwill, não; foi apenas uma invencionice que uns romanos astuciosos mandaram em pergaminho lá para a Judéia/Galiléia, a ver se colava.

Bem; colar, colou. Mas, se foi mesmo um projeto do imperialismo da Roma pagã, terá sido um projeto bem atrapalhado. Será divertido demonstrar isso no próximo capítulo. Essa novela vai render.

4 comentários:

  1. É, parece que vai render. E eu vou acompanhar.

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  2. Só quero dizer que li o "Relato de Prócula" e achei muito bom, melhor do que aquele livro sensacionalista e chato do Dan Brown. Juvenal Cigano.

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  3. E aí, Solha fica calado, não vai reclamar o que é dele?

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  4. Estou do lado do velho JC, que todo mundo sabe quem é e sabe que é do bem. Acho mais fácil WJ Solha e esse tal de Atwill não existirem do que Jesus Cristo não ter existido. Estamos conversados e tenho dito. Anônimo da Silva (aliás, da Selva, porque sou índio - índio com computador, porque sou índio, mas não sou besta)

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