Blog Rocha 100
“No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.
sábado, 22 de setembro de 2012
As Bodas de Jesus e Maria Madalena - e um esplêndido trecho do ateu Schopenhauer
A grande polêmica causada pelo papiro apresentado por Karen King espanta-me não pelo seu conteúdo, mas por alguém pensar que tal descoberta possa abalar a fé cristã.
Consta do papiro: "Jesus disse-lhes: "Minha esposa..."; "Ela será capaz de ser minha discípula...".
Não é prova, mas é um bom indício. Isso se o documento for autêntico: há controvérsia. Francis Watson, da Universidade de Durhan, por exemplo, afirma que se trata de uma falsificação.
Aceitemos, por hipótese, não apenas a autenticidade do documento, mas o fato mesmo do casamento do jovem galileu com a sua doce amada Madalena.
Eu, Washington Rocha, cristão fervoroso, rejubilo-me. Ah!, como gostaria de ter estado presente às Bodas. Que festa esplêndida, com fartura do melhor vinho. Daria muitos e muitos Vivas ao casal, clamando feliz:
LONGA VIDA! LONGA VIDA! VIDA ETERNA!
Pois, nós cristãos, que acreditamos no milagre da ressurreição, como nos haveríamos de abalar com este ou outro detalhe que se vá descobrindo sobre a vida do Redentor?
O cerne da fé cristã, no meu entender, está nesta passagem, em que Jesus responde às angústias de Marta, irmã do defunto Lázaro:
"Disse-lhe Jesus: eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morto, viverá.
E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?
Sim, Senhor, respondeu ela, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo".
(João 11, 25 a 26).
Comumente, não sei porque, quando leio grandes ateus, as mais altas inteligências do ateísmo, resulta-me a leitura em fortalecimento da minha fé. Isso aconteceu em relação a, por exemplo, WJ Solha; e já escrevi a respeito. Também em relação a Nietzsche; igualmente, escrevi a respeito. Porém, sobre o ateu Schopenhauer, ainda não havia escrito. Escrevo agora. Quer dizer, limito-me a reproduzir um trecho de O Mundo como Vontade e como Representação (São Paulo: UNESP, 2005 - tradução de Jair Barboza), que estou relendo:
"O sábio estóico não sabe aonde ir com sua sabedoria, e sua tranquilidade perfeita, contentamento, beatitude, contradizem tão frontalmente a essência da humanidade que não nos permite de modo algum sua representação intuitiva. E como contrastam com eles os penitentes voluntários que ultrapassam o mundo e que a sabedoria indiana nos apresenta e efetivamente produziu!, ou mesmo o salvador do cristianismo, aquela figura resplandecente, cheia de vida profunda e de magnânima verdade poética do mais alto significado, que, com virtude perfeita, santidade e sublimidade, encontramos perante nós em estado de supremo sofrimento".
Assim, mesmo que o casamento de Jesus seja uma mera possibilidade, como não nos rejubilarmos com um momento de tão grande alegria na vida de quem tanto sofreu para nos salvar?
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