Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

domingo, 22 de novembro de 2015

Carlos Martel: "Liberdade, Democracia e Carlos Martel!"

Em batalhas, costuma-se gritar palavras de ânimo. Algumas transformam-se em divisas usadas durante toda a guerra; ou vão além, marcando a saga de um povo. Na Guerra de Reconquista, os guerreiros da cristandade, em luta contra a ocupação islâmica, gritaram: "Santiago y Cierra España!". Já muito antes, nas aflições de terrível batalha marítima, bradara o general romano Pompeu Magno: "Navigare necesse; vivere non est necesse". Os romanos venceram a batalha e o brado de Pompeu viria, séculos depois, a ser a divisa dos grandes navegantes portugueses (e também recolhida por Fernando Pessoa como divisa poética: "Navegar É Preciso, Viver Não É Preciso").

Na guerra que a Civilização Ocidental trava hoje contra o terror do fundamentalismo islâmico, creio que a melhor divisa será a que vai no título, e aqui repito:

"Liberdade, Democracia e Carlos Martel!"







Carlos Martel era um democrata? Não. Carlos Martel foi um dos fundadores da ordem feudal na Europa, dando as bases do que viria a ser o Sacro Império Romano Germânico, estabelecido pelo seu neto Carlos Magno. Mas sem Carlos Martel não haveria hoje a democracia, que vem a ser a maior realização política da Civilização Ocidental, porque sem Carlos Martel a Civilização Ocidental haveria sucumbido diante do poder islâmico.

Pelo ano de 732, embora sem o título de Rei, Carlos era o senhor dos reinos francos. As tropas do Islã, os sarracenos, haviam conquistado a Península Ibérica e avançavam sobre a Europa sem encontrar quem as detivesse. Até que, na Batalha de Poitiers (também chamada Batalha de Tours), encontraram Carlos com a sua cavalaria e o seu martelo de guerra.

Os "multiculturalistas politicamente corretos", se existissem naquela época, certamente não aprovariam os métodos medievais não muito respeitosos de Martel. Também achamos que todas as civilizações devem ser respeitada, já os "multiculturalistas" desrespeitam e esculhambam justamente a Civilização que os pariu e embala. Devemos, aliás, considerar que a Civilização Ocidental não é tão ocidental assim; nem nas origens nem na atualidade. Ela é, fundamentalmente, helênica, judaica e cristã. O helenismo veio do berço ocidental greco-romano; judaísmo e cristianismo vieram do Oriente Médio. Na atualidade, pode-se dizer que países do Oriente - como Israel, Japão e Coreia do Sul - prosperam porque, em larga medida, se "ocidentalizaram".

Deve-se respeitar todas as civilizações, mas quem não for "politicamente correto" e não tiver medo de ser patrulhado pode considerar que a Civilização Ocidental-Helênico-Judaico-Cristã se fundamenta nos melhores valores civilizatórios: Liberté, Égalité, Fraternité. A história contemporânea tem confirmado que esses valores só conseguiram se firmar nos regimes de democracia-liberal. Todas as civilizações, com suas diferentes culturas e religiões, podem avançar nessa direção; mesmo porque a democracia é o regime da diversidade e da tolerância. O sonho do futuro democrático foi, por exemplo, o que mais motivou o filósofo e político italiano Norberto Bobbio. O que ele afirmou nestas palavras candentes:  



“Ouso expressar o desejo de que a democracia seja o destino, permitam-me repetir esta palavra solene, não apenas da Europa, mas do mundo todo”
Norberto Bobbio
 

Bobbio considerou que a condição para a democracia mundial é a paz, nos molde propostos por Kant no opúsculo À Paz Perpétua. Com efeito, a democracia precisa contar com a paz; se não perpétua, pelo menos duradoura. Ocorre que, às vezes, a democracia precisa ir à guerra; como fez para derrotar o nazismo. Nesses momentos, segue-se, naturalmente, com o debate intelectual, análises e interpretações; porém, principalmente, é preciso agir. Durante o avanço do nazismo na Europa, os "politicamente corretos" de então não queriam melindrar Hitler, queriam compreender, dialogar e entrar em acordo. Winston Churchill, que não era "politicamente correto", entendeu que o momento era de agir e atingiu os conciliadores com uma frase fulminante: "Entre a guerra e a desonra, eles escolheram a desonra, e terão a guerra". Churchill era um democrata e enfrentou os nazistas com guerra. Churchill era também um Carlos Martel.  

Já existem nações islâmicas engajadas na luta contra o terror do Estado Islâmico; e é possível que outras adiram e formem uma aliança que as aproximem de caminhos democráticos. Mas é preciso que as lideranças do mundo democrático não tenham medo de afirmar os valores da sua Civilização e a história que construiu essa Civilização:

"Liberdade, Democracia e Carlos Martel!"



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