Blog Rocha 100

No princípio, criou Deus os céus e a Terra”. Ótima frase para um Blog que navegará 100 fronteiras: dos céus metafísicos à “rude matéria” terrestre. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Pois, somos também deuses, e criadores. Podemos, principalmente, criar a nossa própria vida, com autonomia: isto se chama Liberdade. Vida e Liberdade são de Deus. Mas, quem é “Deus”? Devotos hebreus muito antigos, referiam-se a Ele apenas por perífrases de perífrases. Para Anselmo de Bec, Ele é “O Ser do qual não se pode pensar nada maior”. Rudolf Otto, diante da dificuldade de conceituá-Lo, o fez precisamente por essa dificuldade; chamou-O “das Ganz Andere” (o Totalmente Outro). Há um sem número de conceitos de Deus. Porém, o que mais soube ao meu coração foi este: “O bem que sentimos intimamente, que intuímos e que nos faz sofrer toda vez que nos afastamos dele”. É de uma jovem filósofa: Catarina Rochamonte.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Queermuseu e o direito de "Não Queerer"

A polêmica em torno da exposição Queermuseu, patrocinada pelo Banco Santander de Porto Alegre, continua e vai esquentando: de um lado já se falou em "meter bala", de outro já se disse que "tem de fuzilar". Então, vou meter minha colher nesta sopa gorda onde entram arte, política, religião, ódio e paixão.

Desde já, declaro-me democrata e liberal, defensor da tolerância e da liberdade de expressão, entusiasta da diversidade (mais que tudo, a diversidade faz a beleza e a alegria do mundo). Dito isto, considero de total inconveniência uma exposição em local de acesso irrestrito, financiada com dinheiro público (Lei Rouanet), apresentando obras que ultrajam uma religião, imagens erotizadas de crianças e pornografias das mais cabeludas, inclusive o pornô zoófilo.

Certamente, em uma sociedade democrática, dita também, por Henri Bergson e Karl Popper, "sociedade aberta", a mais extravagante pornografia pode ser exibida; porém, caríssimos artistas e curadores, em local adequado, com restrições de acesso e outros cuidados necessários.

Eu muito aprecio, mas pouco entendo da arte pictórica. Todavia, penso que uma imagem que ultraje uma religião (ou uma pessoa, ou qualquer coisa), não deixará de ser ultrajante por ser realizada com talento e requinte técnico. Na dita exposição, como todos já devem ter visto, havia uma coleção de hóstias simuladas, com inscrições de alusão sexual: cu, vulva, língua, etc. Não alcanço a grandeza artística dessa obra, porém, por mais qualidade que possa ter, foi uma provocação intencionalmente ultrajante a uma religião; no caso, o Catolicismo. Os artistas têm direito a estas provocações ultrajantes? Nas sociedades democráticas, como é o caso do Brasil, têm. Em sociedades não democráticas, como é o caso de muitos países do Islã, se a religião for ultrajada, mesmo que na forma da mais bem elaborada arte, o resultado será a execução sumária do artista. Porém, vejam, senhores artistas e curadores, mesmo nas sociedades democráticas, as Constituições regulam a liberdade de expressão, havendo leis restitivas tanto em relação aos conteúdos quanto em relação às condições de exibição.

Pelo que tenho acompanhado da eletrizante polêmica, os defensores da exposição Queermuseu, que querem sua reabertura, denunciam censura. Não entendo que houve censura, penso que tal censura só poderia ser feita por órgão estatal competente. Entendo que os descontentes com a exposição exerceram o direito, digamos assim, de "Não Queerer". Não houve censura, houve pressão, especialmente com o boicote através do cancelamento de contas; e o Santander cedeu à pressão. Nenhuma novidade. Pressão de todo tipo é coisa comum em países democráticos, sendo a pressão através de boicote financeiro muito eficiente.

Os defensores da exposição afirmam, em tom de dura acusação, que a pressão (que eles chamam de censura) partiu de "moralistas", "conservadores", "reacionários", " e "direitistas". Não sei se é assim, não sei se todos que criticaram a exposição têm esse perfil; mas, em se admitindo que seja assim, por que os moralistas, reacionários, conservadores e direitistas não teriam direito de exercer a ação política da pressão e boicote? Por que tal direito teria de ser privilégio exclusivo de imoralistas, progressistas, revolucionários e esquerdistas? Como se sabe, no Brasil e em todo o mundo democrático, grupos com esses perfis usam rotineiramente, e legitimamente, a tática de pressão e boicote para afirmação de suas posições e consecução dos seus objetivos.

Li de uma escritora que vem participando dessa polêmica, que se a religião islâmica ou uma religião de matriz africana fossem as ultrajadas, as pressões viriam de grupos de esquerda. É procedente essa consideração da arguta escritora. Com efeito, para a esquerda radical brasileira, como diz a referida escritora, "contra o Cristianismo, pode tudo; contra todas as demais religiões, não pode nada". Eu acho que nenhuma religião deve ser ultrajada; nem mesmo, vejam só, a religião cristã.

Assustados, ou querendo assustar, os defensores da Queermuseu afirmam, em tom de denúncia, que uma onda conservadora se alastra pelo Brasil. Se for o caso, isso significa que os conservadores estão ganhando a disputa pela opinião. Ora, os conservadores têm tanto direito de se expressar e lutar para "conquistar corações e mentes" quanto o têm os liberais, progressistas, socialistas, anarquistas, marxistas e todos os istas.

Quanto à censura às artes, por ser democrata e liberal, sou contra. E nada tenho contra a arte erótica; pelo contrário, tenho a favor, pois conheço, e são célebres, realizações magníficas sobre o tema. Desde muito antigamente, a arte erótica seduz e encanta. No entanto, será sempre conveniente, até mesmo pela sua força de atração e sugestão, considerar os momentos e e espaços adequados para sua fruição.






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