Pois bem, por ruim que seja o marxismo e por pior que seja o bolchevismo, não penso que os marxistas e bolchevistas de hoje mereçam o padecimento de apreciar a degradação a que a esquerda autoritária latino-americana - cuja maior expressão é o chavismo -, que lhes reivindica a herança, atingiu.
Como se sabe, o marxismo é uma filosofia materialista que se pretendeu como ciência, autodenominando-se "Materialismo Histórico", "Materialismo Dialético" e "Socialismo Científico". Marxismo e bolchevismo, que comandaram o movimento socialista internacional no séc. XX, praticaram um severo ateísmo racionalista, abominando todas as superstição e todas as religiões, que para eles era a mesma coisa. Pois, o chavismo (também chamado bolivarianismo - coitado do Simón Bolívar), que se autoproclama "Socialismo do Século XXI", enveredou não só pela religião católica, mas pelas superstições mais ridículas. O chefe supremo do chavismo, o defunto Hugo Chávez, desce periodicamente à terra para, em forma de passarinho (pajarito), conversar com seu herdeiro presidente da Venezuela, o podre Nicolás Maduro, que, vez por outra, dorme ao pé do túmulo do ídolo, tal qual um servo de Drácula. E essa não é uma abjeção que o podre Maduro faça às escondidas, pelo contrário, conta a abjeção aos devotos da seita para entusiasmá-los.
Em artigos passados, já tinha eu denunciado o caráter fascista e de baixa superstição do chavismo. Um meu amigo, velho intelectual marxista a quem muito prezo, avesso a superstições e religiões, zangou-se. E zangado, escreveu contra mim alguns desaforos. Eu não me zanguei. Compreendi, pois não é fácil abandonar antigas paixões ideológicas. E agora, depois da última degradação do chavismo, chego a ter compaixão pelo meu velho amigo, austero pensador que reivindica tanto o marxismo como o Iluminismo. Eis que o chavismo instituiu um novo Pai Nosso, substituindo o Deus de Jesus Cristo pelo defunto ídolo Hugo Chávez. Aliás, foto que circula na internet dá conta que Chávez ressuscitou, na forma de uma mulher gorda (procurem conferir; é a cara).
Todavia, por espantoso que seja o Pai Nosso bolivariano, por audaciosa que seja, do ponto de vista cristão, a blasfêmia, havemos de convir que, pelo menos no Brasil, o que mais tem hoje na Igreja Católica é padre, frade e bispo marxista. O Frei Betto, por exemplo, chegou a idealizar o futuro feliz da humanidade como produto do acasalamento entre uma santa católica e um guerrilheiro marxista. Vejam: "Feliz homem novo, feliz mulher nova. Como filhos das núpcias de Tereza de Ávila com Ernesto Che Guevara". Ao libidinoso frade e outros católicos marxistas, talvez seja conveniente abandonar o velho Pai Nosso - ultrapassado, reacionário -, e adotar o novo Pai Nosso - progressista, revolucionário -. Ei-lo: