Logo após o anúncio da morte de Alfonso Cano, número 1 das FARC, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, convidou a organização guerrilheira ao diálogo e a baixar as armas. De inspiração marxista-leninista, as FARC, há décadas, tentam a tomada do poder através da luta armada. Nos últimos anos o Exército da Colômbia, com o apoio logístico dos USA, impôs sérios reveses à guerrilha e vai, pouco a pouco, acuando seus combatentes. O fundador e líder histórico das FARC, Manuel Marulanda, o Tirofijo, morreu de morte morrida (ataque cardíaco). Mortos em combate ou executados, caíram, dentre outros, os importantes comandantes Raúl Reys, Mono Jojoy, Iván Rios (morto por guerrilheiros desertores) e, agora, o substituto de Marulanda no comando supremo. Em suma, a velha guarda revolucionária está sendo liquidada. Porém, mesmo enfraquecida, as FARC são ainda uma força temível de, segundo estimativa do governo colombiano, 8 mil guerrilheiros (menos de metade do que foram no seu apogeu). Se não houver paz, haverá, provavelmente, um massacre do Exército sobre os guerrilheiros. Se não houver paz, os guerrilheiros, antes de serem massacrados, tenderão, pela motivação adicional do desespero, a estender o terror a níveis inimagináveis: promoverão o inferno; um inferno de poucos ou de muitos anos. O diálogo proposto pelo Presidente Santos é dificílimo, como se pode ver pela dura nota do Secretariado (órgão supremo das FARC) sobre a morte de Alfonso Cano:
"Não será a primeira vez que os oprimidos e explorados da Colômbia choram um dos seus grandes dirigentes. Nem tampouco a primeira vez que o substituirão com a coragem e a convicção absoluta na vitória". todavia, a retórica revolucionária talvez não resista muito tempo aos fatos: no campo militar, o movimento revolucionário está ficando sem saídas. A nova geração de guerrilheiros pode priorizar a sobrevivência e aceitar o diálogo. Visando à paz, tal diálogo só poderá prosperar por via de uma proposta de Anistia. Se anistiados e reintegrados à sociedade com plenos direitos de cidadania, desistindo da luta armada, os ex-guerrilheiros, vindos das selvas, do exílio ou das prisões, poderão tentar chegar ao poder pelo voto. No Brasil aconteceu mais ou menos assim, e hoje uma ex-guerrilheira é Presidente da República. Aliás, este caminho pacífico para o poder foi aconselhado aos guerrilheiros colombianos pelo ex-presidente brasileiro Lula da Silva. Certamente, uma proposta de anistia aos guerrilheiros só poderá prosperar com extensão da anistia aos agentes do Estado envolvidos em excessos durante os muitos anos de ação contra os guerrilheiros. Crimes terríveis terão de ser perdoados, dos dois lados. Os guerrilheiros promoveram o tráfico de drogas, sequestros, cativeiro, ataques terroristas, execuções sumárias e horripilantes. As forças do Estado exerceram uma repressão duríssima, onde não terá faltado os excessos da tortura e da execução de guerrilheiros dominados e indefesos. Tem ainda as organizações paramilitares que coadjuvaram as forças regulares no combate à guerrilha, e estes grupos foram pródigos em excessos de crueldade e ações criminosas paralelas ao combate à guerrilha. Terão também de ser anistiados. É aceitável que crimes terríveis sejam perdoados? É o preço da paz. Fora este caminho de uma Anistia Ampla, restará o caminho do massacre de 8 mil guerrilheiros, dentre os quais muito jovens e adolescentes (e também mulheres grávidas, bebês e crianças que serão atingidas direta ou indiretamente). Ou o caminho cada vez mais improvável de uma vitória das FARC, que, em sendo vitoriosas pelas armas, implantariam uma ditadura revolucionária crudelíssima. Se descartarmos essa improvável vitória, restará evidente que quem mais terá a ganhar com uma Anistia Ampla serão os guerrilheiros, que poderão, inclusive, formar um partido político legalizado e competitivo. Na Colômbia, a Anistia que abrirá o caminho da paz é ainda um sonho. No Brasil foi realizada há mais de 30 anos com os resultados mais esplêndidos que se possa imaginar. Não obstante, alguns tontos insistem na revisão da Lei da Anistia, aprovada pelo Congresso Nacional e promulgada em 1979. Tal campanha revisora de uma Lei que já produziu todos os seus efeitos - magníficos efeitos - é uma iniciativa tão besta, tão evidentemente equivocada, que não dá nem gosto de contraditar.
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